AMARO GOMES COUTINHO, O MÁRTIR

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão.

Jean-Paul Sartre

A história nos revela que Amaro Gomes Coutinho foi um paraibano que nasceu no meado do século XVII e que além de rico proprietário de terras e outros bens materiais, participou ativamente da Revolução de 1817, de modo que é um dos seus mártires. De modo que em sendo “coronel do regimento de milícias brancas da cidade, tomou parte saliente naquela revolução, na qual foi sagrado herói, sendo pelo povo aclamado general da República”, segundo Bittencourt (1914). O que vale afirmar que a referida revolução queria proclamar a República do Brasil e ficar livre de Portugal e do regime de monarquia. Tem historiadores que chama a Revolução de 1817, outros a chamam de Revolução Pernambucana e outros também a chamam de Revolução dos Padres. Na realidade foi um movimento emancipacionista iniciado em 6 de março de 1817 na Província de Pernambuco com o apoio das Províncias da Paraíba e do Ceará. Devemos enfocar de que a crise econômica regional, o absolutismo da monarquia portuguesa e bem assim as ideias iluministas defendidas pela maçonaria, foram suas causas principais. Na Província de Pernambuco as sociedades secretas tiveram importante papel para divulgar as ideias da Revolução Francesa: igualdade, liberdade e fraternidade, ex-vi o Areópago de Itambé (primeira loja maçônica fundada em 1796 no Brasil), a Patriotismo, a Restauração, a Pernambuco do Oriente e a Pernambuco do Ocidente, locais das reuniões para propagação e difusão de tais ideias e delas participavam: religiosos, militares e intelectuais. Foram aí onde foram elaborados os planos da revolução de 1817. E Bittencourt enfoca que Amaro Gomes Coutinho “como membro valioso da junta provisória, foi preso em Mamuaba, para onde fugiu com o habito de carmelita, sendo condenado à morte pela comissão militar de Pernambuco” e ato continuo“ subiu a forca no Campo da Honra, em Recife, a 27 de agosto de 1817” e que “seu corpo foi arrastado a cauda de cavalo até ao cemitério da matriz do Santíssimo do Recife”, enfatizando ainda que “sua cabeça e mãos, depois de salgadas, foram expostas as multidões num poste da sua propriedade Zumby na Paraíba, de onde as tirou, no fim de quinze dias, o inglês Francisco Stuard, que as entregou a desditosa viúva, e por esta foram enterradas na capela do Engenho do Meio”, e o referido historiador afirma que ele “era cavalheiro da Ordem de Cristo, sinal evidente de grandes serviços a pátria prestados”, porém “e como chefe da junta, devia ter sido um homem de inteligência e de audácia”, de modo que “seus bens foram seqüestrados, fazendo-se o seqüestro judicial na Paraíba a 4, a 12, a 13 e a 30 do mês de maio de 1817. Resultado: principal, 1:486$069; erário, 1:464$435; custas, 21$631”, segundo a moeda nacional em vigor no Brasil Colônia de Portugal, tendo “como um triste sinal do seu assassinato jurídico, aqui transcrevemos o celebre “hino cantado a duo e respondido por todos os circunstantes, finda a execução de cada padecente em Pernambuco, em 1817: Vamos todos inspirados, pelo marte tutelar,resgatar um povo aflito, o melhor dos reis vingar; Valerosos lusitanos, a vitória por vós chama, a trombeta já da fama; Vamos todos etc; Já de Jano as portas abre, a mais justa, e santa guerra: quem do nada faz a terra, vos obriga a triunfar; Vamos todos etc; Nossas bélicas bandeiras, avistando o vil enxame, pelo atroz remorso infame, já se sente aguilhoar; Vamos todos etc; A nós deu João o Justo, porque nosso valor preza, esta nobre e ilustre empresa, que hade o trono sustentar; Vamos todos etc; Lá no Templo da memória, juntareis mais estandartes, ao que já em tantas partes, vosso zelo faz ganhar; Vamos todos etc; Viva, viva de Bragança, viva o bom herdeiro Augusto, que de um jugo torpe, injusto, vem seu povo libertar; Vamos todos etc.”. Na verdade, os revolucionários de 1817 receberam avivamento das ideias iluministas, graça a fundação do Seminário de Olinda, daí justificar-se ser também chamada de “revolução dos padres”, tamanha era a participação do clero católico apostólico romano e que Joaquim da Silva Rabelo, frade, médico e botânico ( que adotou o nome de Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, quando ordenou-se sacerdote pela Ordem de Nossa Senhora do Carmo - Carmelita, nascido aos 20 de agosto de 1779 e fuzilado em 13 de janeiro de 1825, no Recife/Pernambuco, filho de Filho primogênito de um tanoeiro português, Domingos da Silva Rabelo, e de sua esposa, Francisca Maria Alexandrina de Siqueira), seria o maior símbolo, uma vez que esteve implicado na Revolução de 1817 e na Confederação do Equador em 1824, que o levaria a ser fuzilado no local conhecido atualmente como Casa da Cultura de Recife.

A atual bandeira do Estado de Pernambuco é inspirada na bandeira da Revolução de 1817, apenas foram retiradas as três estrelas acima do arco-íris que simbolizavam as Províncias de Pernambuco, Paraíba e Ceará, províncias mentoras das ideias revolucionárias visando a proclamação da República a começar pelo Nordeste do Brasil.

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REFERÊNCIAS:

BESOUCHET, Lídia. José Maria Paranhos: Visconde do Rio Branco: ensaio histórico-biográfico/ Tradução de Vera Mourão - Rio de Janeiro:Nova Fronteira;[Brasília]: INL, 1985.

BITTENCOURT, Liberato. Homes do Brasil. Vol. II – Parahyba. Rio de Janeiro: Livraria e Papelaria Gomes Pereira, Editor, 1914.

BRANDÃO, Ulisses. A confederação do Equador. Recife: Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, 1924.

CANECA, frei Joaquim do Amor Divino. Obras políticas e literárias de frei Joaquim do Amor Divino Caneca. Organização de Antônio Joaquim de Melo. Recife: Assembleia Legislativa de Pernambuco, 1972.

CANECA, frei Joaquim do Amor Divino (1779-1825). Organização e introdução de Evaldo Cabral de Mello, Coleção Formadores do Brasil, 2001.

DA COSTA, Sérgio Corrêa. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro:Casa do livro, 1972, p. 36

LEMO, Brito. A gloriosa sotaina do Primeiro Reinado. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1937.

LIMA SOBRINHO, Barbosa. Pernambuco: da Independência à Confederação do Equador. Recife: Conselho Estadual de Cultura, 1979.

LIRA, Micheline de Souza. A Confraria Maçônica em Itambé. Goiana, 1999.

TAVARES, Francisco Muniz. História da Revolução de 1817. Recife: Governo do Estado de Pernambuco, 1969.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 26/05/2013
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