PATRIOTISMO - GIGANTE DESPERTADO

Manifestações nas redes sociais, ruas e estádios mobilizam milhões de brasileiros, que exigem medidas para a construção de um País melhor

Um momento histórico! Assim descreviam os meios de comunicação diante das manifestações que levaram milhões de brasileiros às ruas no mês de junho. Das redes sociais, o movimento ganhou força e chegou primeiramente às capitas, depois ao interior, até que todo o País fosse tomado por ondas de protestos contra o aumento no preço das passagens de transportes coletivos, dinheiro público empregado nas obras da Copa do Mundo de 2014, e por melhorias nos serviços de saúde, educação, segurança e bem-estar social. Em igualdade de condições, ativistas, artistas e anônimos defendiam os mesmos propósitos e hasteavam a mesma bandeira – a do Brasil. Enquanto isso, partidários políticos eram hostilizados pela massa humana, que gritava em uníssono: “Sem partido! Sem partido!”. Para a presidente Dilma Rousseff, as manifestações são atos de civismo e democracia. “As vozes das ruas querem cidadania, saúde, educação, transporte e mais oportunidades. E eu garanto que vamos conseguir mais para o nosso povo”, disse em rede nacional.

A PEC 37 – Proposta de Emenda Constitucional, que caso aprovada delegaria à polícia federal e civil a responsabilidade nas investigações criminais, também foi um dos alvos dos manifestantes. Diga-se de passagem, em 25 de junho 430 parlamentares votaram contra, enquanto que somente nove foram favoráveis. Certamente, a voz do povo que ecoava pelas ruas foi ouvida no plenário da Câmara dos Deputados.

Na capital paulista, após vários dias de mobilização, o prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin recuaram no aumento das tarifas de transporte e reduziram o valor de R$ 3,20 para R$ 3. No entanto, segundo os líderes do MPL – Movimento Passe Livre, associação que defende um transporte público de qualidade com livre acesso aos usuários, a vitória conquistada nas ruas não significa o fim das manifestações, tanto que na voz e no semblante de cada participante parecia explícito que a indignação não era apenas pelos 20 centavos.

Os movimentos populares prosseguiram, culminando em 11 de julho com o Dia Nacional de Luta, organizado pela UGT – União Geral dos Trabalhadores, com a participação das grandes centrais sindicais, entre elas a CUT – Central Única dos Trabalhadores e a Força Sindical; além do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, da UNE – União Nacional dos Estudantes; com a colaboração de sindicatos, federações e demais entidades de classes. A pauta unificada inclui, entre outros aspectos, redução da jornada de trabalho e o fim do fator previdenciário (ver box). “Quero cumprimentar todos os nossos companheiros e companheiras pelo excelente trabalho realizado em suas bases. O Dia Nacional de Luta demonstrou nossa preocupação de preservar, de forma séria, os direitos dos cidadãos inseridos na pauta de reivindicações dos trabalhadores e da sociedade”, agradeceu em nota o presidente da UGT, Ricardo Patah. Em seu papel de representatividade sindical, o SINTEC-SP – Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado de São Paulo também se mobilizou, divulgando a seguinte mensagem: “Com união e compromisso, nós faremos do Brasil um País mais justo, humano e democrático”. O Dia Nacional de Luta bloqueou 88 trechos de rodovias em 18 estados brasileiros, e dezenas de cidades aderiram às manifestações.

Civismo virtual – Uma das maneiras de medir a movimentação das informações que circulam na internet é pelas hashtags, palavras ou expressões chaves precedidas pelo símbolo “#”, associadas a um determinado assunto discutido em tempo real nas redes sociais como Twitter, Facebook e Google+. No ápice das manifestações, hashtags como #VemPraRua, #MudaBrasil e #OGiganteAcordou, foram acumulando milhares de publicações e comentários, mobilizando ainda mais as pessoas a aderirem ao movimento social. Esse “despertar” cívico deve-se, portanto, à velocidade com que a rede se movimenta, que a torna imprescindível para a consolidação de um momento histórico, assim como aconteceu no Oriente Médio e norte da África em 2011 durante a Primavera Árabe, levante popular que colocou fim aos longos períodos de ditadura que ainda persistiam em muitos países da região.

Em muitos detalhes, as manifestações pelas cidades brasileiras remeteram a outros episódios populares marcantes da história, como o movimento Diretas Já de 1984, e o Caras Pintadas de 1992. A diferença é que na ocasião a internet não passava de um protótipo do que é atualmente, enquanto que as redes sociais estavam longe de se tornarem realidades.

Civismo no futebol – Se nas ruas os protestos acirravam o ânimo dos manifestantes e dos responsáveis pela segurança, nas praças esportivas o clima de festa contrastava com a euforia dos torcedores durante os jogos da Seleção Brasileira durante a Copa das Confederações de 2013, aperitivo do Mundial de 2014. Em Fortaleza, eles simplesmente ignoraram as regras da FIFA – Federação Internacional de Futebol, que determina 30 segundos para execução de trechos dos hinos – e, mesmo com a interrupção do sistema de som, continuaram entoando o Hino Nacional à capela até o refrão final. Perfilados, os jogadores – alguns visivelmente emocionados – aderiram às mais de 60 mil vozes vindas das arquibancadas. “Foi emocionante, umas das melhores sensações que tive na vida. Isso nos deu um incentivo ainda maior e, aconteça o que acontecer, a gente vai correr sempre por esse povo”, afirmou à imprensa o zagueiro David Luiz após a partida. E os torcedores mantiveram o ritmo, embalando a seleção até a decisão e o tetracampeonato contra a Espanha, no Maracanã.

Em 20 de junho de 2002, às vésperas do jogo Brasil e Inglaterra no Japão, o The Guardian, um dos mais importantes jornais britânicos, publicou o seguinte artigo: “Ganhe ou perca, o Brasil tem o melhor tom. O Hino Nacional Brasileiro é indiscutivelmente o mais animado, o mais alegre, o mais harmônico, o mais tentador do planeta. Dá a sensação de ser composto pela ópera, e a influência de Rossini não é difícil de encontrar, embora os estudiosos pensem que Francisco Manuel da Silva possa ter plagiado a melodia de uma peça religiosa composta por seu professor, José Nunes Garcia. Em seu livro Futebol: The Brazilian Way of Life, nosso correspondente na América do Sul, Alex Bellos, explica como o inglês Charles Miller trouxe o futebol pela primeira vez ao Brasil. Mas antes que Miller chegasse a Santos, em 1894, o Hino Nacional já havia expressado por muito tempo na canção o que Pelé e seus sucessores expressaram mais tarde tão maravilhosamente em campo. Enquanto a La Marseillaise – hino oficial da França – chama impulsivamente à luta, o Hino Nacional Brasileiro agita sentimentos apelando aos puros e lindos céus do Brasil, ao som do mar e às flores de seus formosos campos sorridentes. Um cenário natural para um lindo jogo”.

Dia Nacional de Luta: pauta unificada

As principais reivindicações das centrais sindicais e, consequentemente, de todos os brasileiros são:

- Jornada de trabalho de 40 horas semanais, sem redução salarial;

- Fim do fator previdenciário;

- Fim do Projeto de Lei nº 4330/2004, que amplia a terceirização e torna os empregos precários;

- Reajuste digno para os aposentados;

- Destinação de 10% do PIB – Produto Interno Bruto para a educação;

- Destinação de 10% do orçamento da união para a saúde;

- Transporte público e de qualidade;

- Reforma agrária;

- Suspensão dos leilões de petróleo.

Hino à Bandeira Nacional

Outra importante música oficial que marcou a construção do governo republicano brasileiro, contribuindo para a consolidação de uma identidade nacional, é o Hino à Bandeira Nacional. Apresentado pela primeira vez em 9 de novembro de 1906, a letra é de autoria do jornalista e poeta carioca Olavo Bilac (1865-1918), fundador da ABL – Academia Brasileira de Letras; quanto à música, a autoria da composição pertence ao regente, também carioca, Francisco Braga (1868-1945). Entre uma estrofe e outra, repete-se o refrão. Acompanhe:

Salve lindo pendão da esperança!

Salve símbolo augusto da paz!

Tua nobre presença à lembrança

A grandeza da Pátria nos traz.

Recebe o afeto que se encerra

em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!

Em teu seio formoso retratas

Este céu de puríssimo azul,

A verdura sem par destas matas,

E o esplendor do Cruzeiro do Sul.

Contemplando o teu vulto sagrado,

Compreendemos o nosso dever,

E o Brasil por seus filhos amados,

Poderoso e feliz há de ser!

Sobre a imensa Nação Brasileira,

Nos momentos de festa ou de dor,

Paira sempre sagrada bandeira

Pavilhão da justiça e do amor!

Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 156

http://www.sintecsp.org.br/Revistas/SINTEC-SP_156_site.pdf

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 06/01/2014
Reeditado em 06/01/2014
Código do texto: T4638720
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