RUA 24 DE MAIO - DA CONTRACULTURA AO CAOS URBANO

SINTEC-SP denuncia problemas urbanos e exige mais atenção e providências estruturais, por parte das autoridades públicas, para uma das principais ruas comerciais do centro da capital paulista

Pelo ecletismo arquitetônico de seus edifícios, cujas características históricas e contemporâneas se convergem em algum ponto no tempo e no espaço, caminhar por São Paulo pode ser tão agradável quanto uma visita ao museu; em contrapartida, pode se tornar desagradável ao levar em conta a degradação cultural e a sujeira de certas ruas, somadas ao comércio clandestino e à ação dos batedores de carteira que agem à plena luz do dia e sem a menor cerimônia. É fato que o trabalho de revitalização do “velho” centro tem sido implantado com alguns resultados satisfatórios. Nas imediações do Vale do Anhangabaú, por exemplo, está sendo construída a Praça das Artes, com o objetivo de devolver à região um pouco do glamour artístico e cultural do passado. Administrada pela Fundação Theatro Municipal, o imenso boulevard se estende pela Avenida São João e adjacências e seus prédios abrigam sedes de importantes instituições como o Conservatório Dramático Musical, Orquestra Sinfônica Municipal, a Orquestra Experimental, o Coral Lírico, o Coral Paulistano e o Balé da Cidade. Bem próxima dali fica a Rua 24 de Maio, uma das mais movimentadas vias comerciais e que, como tantas outras, também necessita urgentemente de revitalização.

Desnivelado e esburacado, em dias de chuva o calçadão – que há pouco tempo era fechado para o tráfego de veículos – sempre acumula poças d´água, além de causar transtornos às mulheres de salto alto que caminham rumo a seus empregos. E mais: produtos pirateados são comercializados livremente, pedestres dividem espaço com skatistas, diferentes tribos urbanas se acotovelam em frente às galerias, sem falar do cheiro inconfundível de maconha e do uso indiscriminado de outras drogas e alucinógenos ainda mais maléficos ao organismo. Diante de tantos problemas urbanos num logradouro de dimensões tão pequenas, o SINTEC-SP – Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado de São Paulo, preocupado com questões relacionadas ao desenvolvimento humano, vem a público cobrar mais atenção e exigir providências estruturais, por parte das autoridades competentes, no sentido de garantir condições mais adequadas a todos que utilizam a via diariamente. “É triste vivenciar essa situação; e nós, como entidade comprometida com o bem-estar social, queremos contribuir para tornar a rua mais limpa e organizada, onde as pessoas possam trafegar com mais segurança e respeito”, salienta o presidente Wilson Wanderlei Vieira.

Recentemente, o secretário municipal Fernando de Mello Franco esteve na sede da Associação Viva o Centro, entidade civil voltada para o desenvolvimento social, histórico e econômico do centro metropolitano da capital, para falar sobre os planos de revitalização propostos pela administração pública. “É preciso que as pessoas fiquem no centro”, disse, anunciando que serão criadas 20 mil novas unidades habitacionais e apontando a classe média como responsável por repovoar a região. “A proposta ainda é tímida para uma cidade do tamanho de São Paulo, mas já é o dobro de moradias construídas nas duas gestões passadas”, acrescenta. Quanto aos calçadões – e isso diz respeito, inclusive, à Rua 24 de Maio –, ele garante que a Prefeitura de São Paulo está elaborando um plano para resolver essa questão. “A iniciativa visa aprimorar os espaços públicos de maneira mais intensa, divertida e mais distribuída ao longo de todo o centro”, conclui.

Sociedade alternativa – Alguns historiadores associam a Rua 24 de Maio a um dos episódios mais sangrentos travados durante a Guerra do Paraguai (1864-1870) – a Batalha de Tuiuti, vencida em 24 de maio de 1866 pela aliança formada entre o Brasil, a Argentina e o Uruguai em território paraguaio, sob o comando do general Manuel Luís Osório.

Batalhas à parte, no início do século passado o centro da capital paulista viveu seu momento de glória e apogeu, tanto que a grande concentração de bares, cinemas e teatros designavam à região o título de Broadway Paulistana; a partir da metade do século, a boemia se transferiu para o Bixiga, assim como a maioria dos teatros e espetáculos.

Ao longo de quase um século e meio de existência as transformações sociais e urbanísticas da Rua 24 de Maio têm sido constantes, acompanhando as tendências impostas pela própria sociedade. Fundado em 1962, o Shopping Center Grandes Galerias – primeiro da cidade, e conhecido como Galeria do Rock – não somente marca a passagem para a Avenida São João como também concentra um dos mais importantes redutos da cultura urbana paulistana. Mesmo assim, as fachadas onduladas idealizadas pelo arquiteto Alfredo Mathias e inspiradas no trabalho de Oscar Niemeyer, praticamente passam despercebidas aos olhares mais apressados, por falta de informação ou simplesmente desinteresse. Numa análise mais profunda, as ondulações constituem uma metáfora para representar as diferentes tribos sociais que a frequentam; ou seja, grupos que se socializam conforme ideais e costumes, cada qual ocupando seu devido espaço. Eis aí alguns resquícios do movimento de contracultura da década de 1960 que, apesar dos novos tempos, ainda dita regras comportamentais e arrebata milhares de seguidores. Ao todo, são mais de 450 estabelecimentos comerciais, segmentados por estilos e que cumprem fielmente seu papel de disseminador de tendências – dos adeptos do hip hop ao rock in roll. “Os pequenos negócios garantem uma capacidade de mudança maior e as coisas se alteram mais rapidamente. Por isso, a galeria é uma metamorfose ambulante”, resume o administrador Marcone Vinicius Moraes, em alusão à música homônima de Raul Seixas, cuja obra é amplamente difundida pelas lojas do edifício. Sem dúvidas, também poderia ser classificada como sociedade alternativa, outro sucesso do Raulzito.

Enquanto as antigas construções precisam ser preservadas e melhor exploradas culturalmente, novos edifícios podem trazer de volta a esperança de que, num futuro próximo, a Rua 24 de Maio se torne o que todos os paulistanos e visitantes esperam. É o caso do prédio do SESC – Serviço Social do Comércio, que deve modificar consideravelmente o cenário urbano da degradada esquina da Rua Dom José de Barros, levando inúmeras opções de lazer, cultura e esporte à região. Apesar do atraso nas obras o projeto é bastante audacioso e, quando finalizado, contará com teatro; praça de alimentação; espaço de conveniência, cultura e atividades esportivas; biblioteca e computadores com acesso à internet; além de uma piscina panorâmica no último andar. “É o coroamento de uma iniciativa na qual nós sempre estivemos envolvidos com entusiasmo”, afirmou Marco Antonio Ramos de Almeida, superintendente geral da Associação Viva o Centro, por ocasião do início da obra, cuja conclusão está prevista para 2014.

Em breve, quem estiver na sede do SINTEC-SP terá uma visão privilegiada do SESC 24. Contudo, ao angariar essa campanha o propósito do sindicato é que todos que trabalham na Rua 24 de Maio tenham o mesmo privilégio; não somente com acesso à piscina panorâmica, mas a qualquer ponto que venha a ser revitalizado no decorrer dos dois quarteirões da rua.

Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 156

http://www.sintecsp.org.br/Revistas/SINTEC-SP_156_site.pdf

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 07/01/2014
Reeditado em 07/01/2014
Código do texto: T4640163
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