Nas minhas andanças mentais, hoje sou um moço que não pretende guardar todas as respostas nem ouso dizer que, somando aquelas as quais alcancei, possuo relevantes explicações.
 
A vida é um mistério, um profundo mistério, também para mim, mas, apesar de não ter a ilusão dos jovens, que imaginam carregar todas as respostas, consigo perceber a reflexão como um fantástico tesouro muito pouco explorado.
Valorizar o hábito de pensar tirando conceitos repetitivos, preconceitos e idéias coletivas sem qualquer base, demais ajuda, faz bem, porém o burburinho do cotidiano parece não mostrar isso à maioria.
 
Ouvi falar numa crise tremenda, a pior de todas.
Temem (inclusive quem quer Temer) que o porvir incerto traga muita dor, gere a revolta popular, protestos infindáveis, um caos o qual faria o Brasil explodir.
 
Antecedendo o Natal, entretanto, as reportagens traziam os shoppings lotados, a correria rumo às derradeiras compras, os presentes natalinos idealizados, horários esticados, um vai e vem que revelava a vontade intensa de consumir.
Nesse instante sempre um entrevistado, curtindo a grande “confusão”, dizia que estava valendo a pena.
 
Perplexo uma cena me deixou.
Um rapaz olhava um certo relógio, parecia fascinado, o desejo tomava sua inquieta alma, a sedução soava difícil de ser contida...
A repórter perguntou:
_ Quanto pretende gastar com esse relógio?
_ Cerca de seiscentos reais.
Ele respondeu sem desviar os olhos do relógio venerado.
 
Ou eu enlouqueci ou compomos uma coletividade de retardados.
Indagando se esse garoto nunca viu um relógio, alguém responderá que ele viu, mas agora poderia gastar um pouquinho mais.
Estranho o argumento, pois imagino que, poupando parte do décimo, ele deve ter optado por pagar com o cartão de crédito.
 
* Nesse mundo que as TVs tanto mostraram, no Natal do comércio no qual Jesus jamais aparece, onde ficou a crise?
O desemprego sumiu?
As dificuldades que dominam o Brasil cessaram?
 
Em paralelo a isso, os vagabundos da política não estão trabalhando, só retomando as atividades em fevereiro.
E a presidenta que, segundo vários gritam, precisa ser afastada?
Acabou a urgência? Podemos esperar passar as comemorações?
 
Eu não entendi nada! Não compreendo nada!
Nos meus últimos textos, defendendo a permanência de Dilma, contrário ao golpe covarde e vil, eu li que, pensando assim, sou responsável pelos males do país.
Perdi meu sono, pois a opção de defender Dilma, na cabeça de quem não quer seu governo, não existe. Hoje, provando a suposta democracia plena, eu não posso escolher que ela termine seu mandato.
Desesperado, confuso, perdi o sono, comecei a ver correr as madrugadas conferindo Scooby-Doo e outras atrações.
 
* Calma, Ilmar!
Nesse período, durante o Natal, quem me condenou, quem rejeita meu direito de querer Dilma lá, no meio do alvoroço, talvez tenha admirado um objeto tão belo, sem desviar os olhos fascinados e hipnotizados.
Por que não?
 
Seria coerente, quando os pilantras voltarem a falar em impeachment, tagarelando o quanto Dilma prejudica o Brasil, recordar (Atenção, você que me acusou de causar a infelicidade do país porque defendo Dilma!) que, poucos dias atrás, nada disso tinha a menor importância.
Se foi possível pausar a aflição e os estragos do governo, será que está tão ruim assim? Não seria o caso de pausar também o papo furado?
 
Eu sugiro essa reflexão, todavia quem quer saber de pensar?
O Carnaval vem aí, resta juntar seiscentos reais para gastar.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 20/01/2016
Reeditado em 20/01/2016
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