PROFESSORA AGREDIDA POR ALUNO EM SC

O relato da professora agredida por um aluno em Indaial (SC) nas redes sociais, segundo alguns, “emocionado”, rendeu matéria pra muito noticiário hoje: “Professora é agredida por aluno dentro de colégio em SC”; “Professora é agredida por aluno após expulsá-lo de sala”; “Professora é agredida com socos após repreender aluno”, etc.

De acordo com entrevista concedida pela professora, a agressão teria acontecido porque ela pediu ao aluno que retirasse o livro das pernas e o colocasse em cima da mesa. Fez isso porque pensou que o rapaz estivesse fazendo uso do celular, acessando whatsaap, o que é bastante comum hoje em dia. E errado, claro, já que ele teria que prestar atenção à aula. O garoto não teria motivo algum para a reação que teve, pois segundo a professora a abordagem foi respeitosa, “... inclusive usei as palavras "por favor" e "por gentileza". Falei: "por gentileza, coloque o livro sobre a mesa".

Imagino a tranquilidade da professora. Ainda mais porque ela informou, na mesma entrevista, que “estava estranhamente calma”, atribuindo isso a uma força divina. Estranho mesmo, pelo menos para mim, que cheguei a presenciar, ao cumprir estágios em escolas públicas, professores chamando os alunos de “satanás” e “bando de cão”. Vivenciei uma situação em que a professora mandou o menino evocar o satanás para pedir a borracha emprestada, porque não admitia que ele falasse com o colega.

Li algumas matérias sobre o caso, completas, e em nenhum momento há outra voz, a não ser a da professora, embora apareça a figura do secretário de educação, que afirma que o rapaz de 15 anos, aluno da EJA, estaria sendo acompanhado pelo Conselho Tutelar e psicólogos e só. Já a professora não conhece o rapaz, era seu primeiro dia de aula com aquela turma, mas é enfática ao declarar que os alunos da EJA, principalmente os do turno da manhã, são “mais difíceis e bastante problemáticos”.

O aluno errou, claro, e precisa responder por isso. A família precisa ser orientada. A professora não merecia ser agredida. Não estou defendendo nenhuma posição. Sou contra, absolutamente contra, esse clima que um relato desse tipo no Facebook acaba gerando, principalmente, pela incitação à violência. Trata-se do tema como se todos os dias, em todas as escolas, um professor fosse agredido a socos por um aluno “marginal”, que talvez nem pai tenha (é isso que leio nos comentários e me acabo por dentro, preocupada).

Ontem, quando vi o relato e li alguns comentários, fiquei muito tocada. As pessoas chegam ao extremo de sugerir a morte como punição para o adolescente. Alguns atribuem a culpa à família, a certo partido político (impressionante!) e até a Paulo Freire. É muita gente sabendo demais, os donos da verdade, cada um defendendo o que julga ser o certo, mas não vi ninguém, nem mesmo a professora, sugerindo algo que possa melhorar a situação, seja para os docentes, para os alunos, para as famílias. Ninguém pensa no social, como se o mais importante fosse apontar o erro do estudante “problemático”.

Em meio a isso tudo, a professora, a vítima das vítimas (lamento muito por ela, ninguém merece ser agredido), está sendo detonada por alguns comentários, porque dias atrás comemorou o ato de uma estudante que atirou ovos naquele político. Disse em sua página, na mesma onde publicou o relato da agressão sofrida pelo aluno de 15 anos, que a moça, a agressora, a representava. Há quem diga que fez apologia à violência e que agora estaria provando do próprio veneno.

Enfim, se o nosso problema fosse esse adolescente de 15 anos, que ninguém conhece, que ninguém sabe da sua história de vida, eu estaria mais tranquila. Ele precisa se tratar, como dizem alguns comentários, mas todos nós precisamos desse tratamento, não escapa ninguém. Precisamos melhorar como seres humanos, pois replicar ódio e incitar a violência não é a solução pra nada. O que me preocupa é a velocidade como o sentimento de ódio ganha força. Isso não é bom pra ninguém, é o que precisamos entender.

Segundo a docente, o que pode mudar o quadro, é a valorização do professor. Eu vou além: as reivindicações são pertinentes, mas não se trata de uma categoria profissional, é a valorização da vida que deve ser considerada!

Entrevista disponível em <http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2017/08/todos-ajudaram-a-deixar-meu-olho-roxo-desabafa-professora-agredida-por-aluno-em-santa-catarina-9875971.html>. Acesso em 22/08/17

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 22/08/2017
Reeditado em 22/08/2017
Código do texto: T6091634
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