NOSSA TRAGÉDIA REPUBLICANA

Para quem pensa que o Brasil passa por um momento diferente, nossa história republicana e democrática pode desmentir. Talvez, a corrupção seja a marca registrada da já centenária República. O que estamos assistindo nossos partidos políticos atuais fazerem não começaram com eles. Eles apenas continuaram fazendo.

Estou lendo atualmente o romance “Incidente em Antares” do escritor Érico Veríssimo. Ler as primeiras 150 páginas do romance, equivale a assistir os noticiários atuais. Ainda não sei qual foi o incidente acontecido em Antares. Claro que chegarei lá.

Nessas primeiras páginas baseadas em duas famílias no princípio inimigas mortais, Veríssimo vai contando detalhes da nossa tragédia republicana desde 1889. No momento, Antares entrou em polvorosa com o golpe militar. Depois dele, e deixando a ficção de lado, também é sabido que nada mudou.

Outra coisa que parece não ter mudado no Brasil, com grande probabilidade de nunca mudar diz respeito ao racismo e o machismo. Devemos tomar muito cuidado ao acusar algum escritor de racista como fizeram com Monteiro Lobato. Na maioria das vezes, e creio ser este o caso de Érico Veríssimo, ele retratava o Brasil real na sua ficção.

Instigado pelo romance resolvi pesquisar na internet quantos presidentes eleitos terminaram seus mandatos. Encontrei uma reportagem bem ilustrativa da revista “Super Interessante”. De fato, em nenhum momento da sua história a nossa República conseguiu se consolidar. Colocando a democracia no mesmo patamar.

Tivemos três períodos reconhecidos como ditadura. Nossa República proclamou-se como uma ditadura. Depois vieram Getúlio Vargas e os militares. Em 128 anos de República, 41 anos foram sob regime de ditadura. Ou seja, um terço.

Um terço também, no caso 12, foram os presidentes eleitos diretamente que terminaram os mandatos. Pegando-se apenas os últimos 92 anos, foram 5 em 25. Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma no seu primeiro mandato. Depois Dilma juntou-se a outro clube que com ela soma 7.

Existe ainda outra estatística interessante. Em 57 anos, praticamente metade da história da República brasileira, os governos foram considerados como “democracia de baixa representatividade. Estou acrescentando os dois anos de Michel Temer.

Na nossa República nem a “santidade” de Lula é uma exclusividade. Getúlio Vargas também recebeu uma auréola. Sem a menor possibilidade de “santidade”, os governos de Lula e Vargas se equiparam no que diz respeito à corrupção. Uma pena como destaca Veríssimo, é “cada governo escrever a história de acordo com a sua conveniência”.