Confessar direto a Deus?

CONFESSAR DIRETO A DEUS?
Miguel Carqueija


Nossos irmãos protestantes não possuem o sacramento da confissão ou penitência, aliás eles não utilizam sacramentos afora o Batismo e o Matrimônio. Não possuem a Crisma, a Eucaristia, a Ordem, a Unção dos Enfermos e tampouco a Confissão.
O argumento geralmente utilizado é que devemos nos confessar diretamente com Deus, e não com simples homens. Esse argumento é aliciante mas não procede. Se bem refletirmos veremos facilmente que não há cabimento algum na ideia de confessar-se com o Todo Poderoso. É, inclusive, algo que ninguém pode provar que faz. Como é afinal essa história de “confessar com Deus”? Nunca vi ninguém explicar.
Infelizmente, tendo em vista a infiltração de ideias liberais e do marxismo cultural até em ambientes católicos, não faltam pessoas que se dizem católicas repetindo o mesmo argumento protestante. Até padres, que não se pejam de contrariar a doutrina oficial da Igreja à qual dizem pertencer.
Quem diz que se confessa diretamente com Deus muito provavelmente está mentindo, pois trata-se de um ato subjetivo e desprovido de normas conhecidas. Confessa com Deus? Quando? Onde? De que jeito?
Há nessa atitude qualquer coisa que cheira a orgulho: “Sou importante demais para me confessar com qualquer um que não seja o próprio Deus!” E olhe lá...
Há ainda nessa atitude qualquer coisa que cheira a hipocrisia: a subjetividade da ação a torna por demais fácil e inócua. É altamente duvidoso que possa resultar em qualquer bem espiritual. Além disso é totalmente inútil alguém se confessar a Deus, pois Ele já sabe tudo a nosso respeito. Claro, não pretendo julgar as intenções de ninguém, muitas pessoas podem errar de boa fé ou induzidas por doutrinas errôneas, mas é preciso expor a Doutrina da Fé como de fato ela é.
A confissão individual ao sacerdote resulta em que você conversa, desabafa, recebe respostas e com elas uma orientação. Claro, existem padres que são excelentes diretores espirituais, outros nem tanto, o fiel pode procurar, buscar escolher um confessor que lhe traga benefício espirutual, consolo, orientação.
Deus evidentemente não baixa à Terra para atender pessoalmente tais confissões etéreas. A confissão ao padre, que afinal é um homem (mas consagrado pelo sacramento da Ordem) é um gesto de humildade coroado afinal pela absolvição e penitência (geralmente algumas orações). O clérigo pode mesmo negar absolvição. Por exemplo, alguém explica que roubou algum bem mas não se dispõe a devolver.
A confissão traz alívio à alma e libera a pessoa para receber a Eucaristia. Para a doutrina católica ela é indispensável pelo menos uma vez por ano, no período pascoal, mas de preferência não se deve esperar muitos meses. Uma vez por mês seria talvez o mais razoável.
E não se deixe levar pela ideia da confissão só com Deus, pois isso mais parece com as promessas nunca cumpridas de dezenas, centenas ou milhares de orações pelo Bentinho, aquele personagem maníaco de “Dom Casmurro” do Machado de Assis.

Rio de Janeiro, 21 de setembro de 2017.


imagem pixabay