ANTÔNIO CARLOS DU ARACAJU

A coisa mais bem feita, meu fio, foi esta escolha de nome artístico: Antônio Carlos du Aracaju. Assim como tu é, como nóis qué: nosso, das criança, dos jóvis, dos ômis, das muié e du Aracaju. Êta minino bão, meu povo!

O menino foi batizado Antônio Carlos dos Santos e nasceu na linda e quente Porto da Folha, cidade do sertão sergipano, exatamente no dia 10 de abril de 1952.

Quando Antônio foi gerado lá estavam, em seu mapa genético, as informações de seu avô materno, tocador de cavaquinho e de seu avô paterno, mestre de uma banda de pífanos.

Antônio, menino, brincava de vaqueiro, ou então de padre, encenando as missas que talvez sonhasse um dia celebrar. E celebra! A missa sagrada da música, de sensibilidade e de raízes profundas na terra amada.

O amor de Antônio Carlos não se deu apenas ao seu rincão natal, alargou-se, apaixonou-se e se distribui em irrepreensíveis peças musicais por todo o território sergipano, nordestino, brasileiro.

Lá ia o menino Antônio em companhia de seus pais e avós, ouvindo e cantando as canções populares, as cantigas de roda, as modinhas que o seu povo tradicionalmente cantava na roça e, aquelas tão singelas cantadas por sua mãe enquanto lavava roupas às margens do rio São Francisco.

Nosso artista gostava de ir à missa, mesmo porque foi ali na igreja onde pôde cantar no coro. Juntava a devoção religiosa à devoção pela música.

Foi no Cine Guarany, em Porto da Folha, que encontrou mais um espaço para alimentar sua inspiração e talento. Ganhava prêmios e se tornava uma atração.

No ano de 1963, Antônio conheceu o então bispo de Propriá, Dom José Brandão de Castro. Esse encontro modificou a vida do cantor e compositor, conhecido àquela época carinhosamente pelo cognome de “Carrinho de Afonso”. O que chamou a atenção do bispo? O fato de o menino “furtar” água dos carros-pipa para saciar a sede dos carneiros, dos jumentos, enfim dos animais – era uma versão sertaneja de São Francisco de Assis. O que fez Dom José? Convidou o menino para estudar no Seminário São Geraldo, em Propriá. O bispo tornou-se uma espécie de empresário e levou o artista para a primeira apresentação em palco, na cidade de Ilha das Flores (SE). O empreendimento deu certo! Além de cantor, o rapaz apresentava dotes teatrais. Em Propriá participou da encenação em peças: O triunfo da cruz, Os desígnios de Deus e outras.

Antônio Carlos, o adolescente, se desloca para Aracaju, onde continua seus estudos no Colégio Seminário Arquidiocesano, dirigido pelo educador Cônego José Carvalho de Souza.

“Ô vida de gado”... As dificuldades financeiras e de saúde na família promoveram novas modificações na vida do artista. Saiu do Seminário em busca de trabalho. Foi aí que começou a cantar em bandas como “Vikings”, “Embalo D” e, na “Orquestra do Maestro Medeiros”.

No ano de 1972 passou a trabalhar na PETROBRAS, o jovem de apenas 20 anos. Desempenhou funções técnicas nos Estados de Sergipe, Alagoas, Bahia e Rio de Janeiro. Terminou suas atividades na PETROBRAS em 1997. Pela sua dedicação à empresa, apesar de ter sido aprovado em três vestibulares (Filosofia, Inglês e Jornalismo), não concluiu nenhum dos cursos. Atualmente cursa Jornalismo na UNIT (4º período).

O primeiro disco gravado, um compacto duplo, o “Bolo de feira”; o segundo, também compacto duplo, traz pela primeira vez o “Meu papagaio” das asas douradas.

Em 1981, lá estava o cantor e compositor participando do I Festival de Música Popular de Sergipe _ promovido pela TV Sergipe. Neste evento foi premiada a composição “Fé, ó José” (melhor arranjo e o 3º lugar). “O caminhante”, de autoria de Nazivan Cardoso, obteve a 5ª colocação.

No ano seguinte, o de 1982, lançava, pelo PROARTE, o seu primeiro compacto duplo, enfim com o nome Antônio Carlos du Aracaju. A gravação aconteceu em São Paulo, com a participação honrosa de músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo e arranjos musicais do maestro Nabar. Neste compacto se inclui “Pássaro”, única música sergipana a alcançar o 1º lugar no hit-parade das emissoras de rádio dos Estados de Sergipe e Alagoas.

Encontra-se Antônio Carlos du Aracaju no esplendor de sua carreira de cantor, músico, compositor, arranjador e diretor musical, destaque no III Festival Universitário e sucesso em várias capitais do país.

Também no ano de 1982, a convite da FUNARTE, Antônio du Aracaju, além de participar, foi diretor do Projeto Pixinguinha, acompanhado do consagrado músico, João do Valle.

Aquele menino de Porto da Folha tem hoje gravadas 78 músicas de sua autoria, além do que, no campo literário dispõe de dois livros ainda não publicados: Espadela (1985) e Paredes e pontes (1994), e mais duas peças teatrais: “Vida de gado” e “Nem santo escapa”.

Para tratar da riqueza da produção artística deste cantor e compositor sergipano é necessário dedicar-se a uma pesquisa. Este texto é pálido para expressar o valor de Antônio Carlos du Aracaju, meu papagaio. Isto é, nosso!

Observação:

Este texto foi elaborado a partir de anotações soltas e sem indicação de autoria. O meu ex-aluno Antônio Carlos du Aracaju merece muito mais do que isto. Para que se prestigie a cultura do povo sergipano e de qualquer outro povo, é importante que pesquisadores se dediquem a figuras simples, talentosas e representativas das nossas raízes.