Viva a fila!

Não é desconhecido de ninguém que brasileiro gosta de uma fila. Brasileiro não pode ver uma que se coça de vontade de encará-la. Fala-se, inclusive, daqueles que enfrentam-na tão-somente para saber a sua serventia.

As mais procuradas são as dos bancos, do INSS, dos hospitais, das casas lotéricas, dos supermercados... Nesta ordem ou não, pois varia de pessoa para pessoa. Há, também, filas de carros, formando os conhecidos engarrafamentos. Outro dia, passava num telejornal formas de alongamento para relaxar dentro dos automóveis, enquanto as pessoas ficavam paradas nos engarrafamentos. Só brasileiro consegue relaxar numa situação dessa!

No Brasil, também já teve fila para comprar álcool, gás de cozinha e telefone. A do telefone era a melhor delas, já que se tratava de investimento. Tinha de ser declarado no Imposto de Renda e tudo mais.

O mais engraçado não é isso! Já perceberam como é a cara do brasileiro na fila? Fica sério, todo cheio de si, gabando-se de estar ali respeitando-a. No fundo, sente-se bem com aquela situação. Quem está na fila tem o costume de ficar olhando para os lados, vigiando se alguém vai tentar furá-la. Se isso acontecer sempre vai ter um para ensinar aos demais como agir nestas situações.

E as conversas que surgem nas filas? Versam, principalmente, sobre as pessoas que têm a missão de atender os que ali estão. Brasileiro diverte-se muito falando mal daqueles que ficam atrás do balcão.

O brasileiro precisa tanto de fila que os legisladores criaram as preferenciais. Somente idosos, gestantes, portadores de necessidades especiais podem utilizá-las. A inveja é grande e volta e meia dá briga. Entre os que podem freqüentá-las também surge confusão. Afinal, tem sempre alguém que aparenta não poder ocupá-las e, por isso, rende ensejo a reclamações.

Ainda há lei limitando o tempo na fila em quinze minutos. Com certeza, vai ter gente chiando. É muito pouco tempo para quem está acostumado ficar, às vezes, horas!

Falta só instituir o dia da fila. Tem que ser feriado nacional ou coincidir com um deles. Talvez pudesse coincidir com o da Independência do Brasil ou da Proclamação da República, quando as fileiras das forças armadas costumam dar o ar da graça.

A fila é tão popular no Brasil que até é raça de cachorro: fila brasileiro.

O certo é que a fila se tornou uma instituição tipicamente brasileira e, como tal, deve continuar sendo respeitada, admirada e enaltecida por todos nós.

Viva a fila!