O Travesseiro

Dia de florida primavera.

Ao chegar à porta da sala de aula, Dó estaca espantada.

Acumulam-se rapidamente, atrás dela, curiosas, as demais notas,

acompanhadas da Rima, da Estrofe, do Tom, da Harmonia

e todas as figuras daquela classe.

Lá dentro, vestido com uma colorida e macia fronha,

estava um travesseiro, confortavelmente recostado à carteira.

Um reboliço. Que fazia tal figura tão deslocada!!

A Clave de Sol, sempre mais decidida, pediu licença e adentrando

à sala, questionou o travesseiro. Esse, já preocupado, foi

depressa se explicando. Sabe, aquele velho, menino, que dizem

declamar com voz de travesseiro?? Estive pensando, cá com as

minhas rendas. Se ele pode, por que sendo eu o próprio, não

conseguiria. Quem sabe até melhor, disse com uma pontinha de inveja.

E assim foi. O travesseiro se encantava com as poesias de

consagrados poetas e, até mais, com outros, que não tão

conhecidos, colocavam no papel tanta emoção.

Por vezes ,se desesperava ,e pensava em desistir, quando não

conseguia alcançar a sensibilidade daquelas palavras.

Afinal declamar é fácil, mas não tão simples assim.

Mas ele era um travesseiro persistente. Daqueles que buscam

a excelência em sua função. Insistiu até o fim!

E hoje, quando o menino, velho, descansa sua cabeça quase

branca, no travesseiro, o ouve suavemente declamar.

E dorme tranquilo. Feliz e em paz.