O Causo das Duas Serêia Deferente

Publicado por: Compadre Lemos
Data: 11/10/2011
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O Causo das Duas Serêia Deferente - Literatura de Cordel Autor: Compadre Lemos - Voz: Compadre Lemos.
O Causo das Duas Serêia Deferente
 
Eitha, meus Cumpade! É desse jeito qui eu gosto! Ocês tudo aqui in casa,  móde nós contá uns causo inté mais tarde, móde nós tomá umas lapada dessa caninha boa, cum esse tiragostin de pêxe frito! Isso é qui é vida, né mês?  

Mió do que isso... nem pão cum ôvo!  Ô, pur ôta, mió que isso... é só pescá serêia de tarrafa!

O que? Cê nunca pescô serêia não? Mar môço!... Eu já pesquei foi duas duma vez! E era duas serêia mêi deferente! Qué sabê comé qui foi? Senta aí. Senta aí, que eu vô contá!

Êsse causo eu quero dedicá pra minha Cumade Regina Bizarro, lá do Rio de Janêro. Ela, qui é perfessôra, iscritôra de livro e poetisa tomém! Bunita e sabida, que só uma serêia!

Antão, procês tudo, e, cum um carinho muitho ispecial, pra Minha Comadre Regina,

 
O  Causo das Duas Serêia Deferente!
 
Eu já pesquei in lagôa,
In riacho e ribeirão,
Já pesquei in cachuêra,
E, tomém, num açudão.
Mai, parano pá pensá,
Nas água funda do má,
Num tinha pescado não!

Chamei antão meus irmão,
Zé Bento, Tromba e Jiló,
E fumo, bando de quato,
Pra praia do Brozogó,
A móde, de imbarcação,
Pescá ispada e cação,
E fazê forrobodó!

Cachaça tinha, sem dó,
E mais ôtos mantimento.
Cheguemo, fizemo fôgo,
Aprotegido do vento,
Assamo logo uma picanha,
E tome pinga nas banha,
No maió contentamento!

Certa hora, noite a dento,
Nois resorveu imbarcá
Numa canôa alugada
Na mão dos pôvo de lá.
As traia tudo certinha,
Tarrafa boa, de linha,
Móde os pêxe num sortá!

Apois, já in arto má,
Nós isbarremo, cum jeito.
Disinrrolemo as tarrafa,
Do modo certo e direito.
Cumecemo a tarrafiá,
Mai ali, no tal lugá,
O negóço tava istreito!

Quato home de respeito,
Quato grande pescadô,
Só qui os tal pêxe num vinha,
Nem móde fazê favô.
Quano a mêa-noite veio,
Cumpade, o trem ficô feio,
E o bicho antão, pegô!

Minha tarrafa pesô
Qui eu nun guentei arrastá.
Chamei logo meus irmão,
Mode pudê me ajudá.
Puxa, puxa qui ripuxa,
Parece coisa de bruxa,
Casada cum boitatá.

Mai nós consiguiu puxá
A tarrafa prá canôa.
Pêxe mêm, num tinha não.
Tinha é coisa bem mais bôa!
Um serêia tão linda,
Qui inté hoje eu lembro ainda,
E num tô falano à tôa!

Ela era branca, alemôa,
Dos cabelo fuguiado.
Os zoín verde marinho,
De ismerarda taiado,
Cumpade, num é balela,
Foi só eu oiá prá ela,
Pra ficá apaxonado!

E eu já tinha até pensado
In fazê decraração.
Ia vê se dava um jeito
De pidi a sua mão.
Mai nessa hora, Cumpade,
O que eu vi, na verdade,
Foi uma decepição!

A água fêiz um ondão,
E um trem dágua saiu.
Meus irmão, já, nessa hora,
Todos três no má caiu.
Eu fiquei só, na canoa,
Mais a tar serêia bôa
E o novo trem qui sugiu.

Pela “ponte que partiu”!
Qui a ôta palava é fêia,
O tal trem qui saiu dágua
Era uma ôta serêia,
Qui foi sortano a premêra,
Rasgano a tarrafa intêra,
Cá força de trêis balêia!

Eu, já sem sangue nas veia,
Assistia a confusão.
Quando as duas se sortaro,
Se oiáro cum emoção.
E assunta, qui coisa lôca:
Elas se bejô na bôca,
Era, as duas, sapatão!

Terminada a bejação,
Elas vortáro pu má.
As rizada quelas dava,
Inda hôj posso iscuitá.
Meu cumpade, assunta bem:
Pur órde de seu ninguém,
Nunca mais pesco no má!

Num quero discriminá
Mulé que ama mulé,
Nem home que ama home,
Cada um faz o qui qué.
Mai serêia sapatão?
Num quero pescá mai não,
Qui pesque lá quem quisé!

Eu falo e digo cum fé:
Foi verdade o qui contei.
Meus irmão tá aí de prova,
Pois os trêis inda sarvei.
Quem dissé que é mintira,
Pois vai lá, pesca e confira,
As sapatão que eu pesquei!

Eitha mundo véi virado, né mês, Compade? Óia, eu pensava qui é só in terra qui tinha dessas coisa! Pois num é qui essa moda chegô inté no arto má?... Danô-se!

O meu abraço carinhoso de hoje vai pra Minha Comade Regina Bizarro, lá do Rio de Janêro! Óia, Cumade, ocê continua insinano e cuntinua iscreveno, viu?  Porque o Brasil percisa muito é de Inducação e Curtura!

E munhto obrigado ocês tudo, que todo dia tá aqui mais eu, no Compadre Lemos Pontocom. E nun dêxa de vortá amanhã não, viu? Porque amanhã tem mais!

 
Fraterno abraço,
Compdre Lemos.

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Compadre Lemos
Enviado por Compadre Lemos em 11/10/2011
Reeditado em 12/10/2011
Código do texto: T3269983
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