um guri caipira que:

– ama a palavra escrita

– está com Nietzche e não abre quando ele diz que "sem a música a vida seria um erro" (e vice-versa)

– endossa o cinema de Godard, "a verdade 24 vezes por segundo", mais verdadeiro ainda em P&B

– vê em Manoel de Barros a delicadeza em forma de sábio

- ainda não conseguiu superar a poesia de Dante (e suspeita que nunca conseguirá)

- entende que se Bach não tivesse existido, Deus seria um erro

- sabe que Ele existe e blasfema

- como Pascal, não tem tempo para ser breve

- apóia os "vampiros de textos", como Uilcon Pereira

- vive de escrever roteiros (muitas vezes bem chatinhos)

- não vive sem parênteses, travessões, subordinadas e contradições

- desconfia que vai morrer um dia

- está convencido da imortalidade da alma

- como Antonio Machado, pensa que "la monedita del alma / se pierde sino se dá"

- nunca fez terapia

- considera as possibilidades

- "desde que o samba é samba é assim..."

- vê no metrô a salvação da lavoura

- tem medo

- gosta de rituais

- ama a moça mais linda

- perturba os amigos para que assistam "Durval Discos" e todos os filmes de Glauber

- ouve a 9ª Sinfonia de Beethoven todos os finais de ano

- aposta o que não tem

- percebe que sem a mulher a vida seria um erro bem maior

- prefere não trabalhar, se puder

- tem certeza que vai publicar um dia

- perde amigos queridos e chora por isso

- chora muito

- nasceu no mato e fica eufórico quando chove

- bebe

- vai mudar de cidade outra vez

- tenta não desperdiçar caracteres

- fez um blog que fica esquecido

- desperdiça o pouco dinheiro que ganha

- acredita em fé cega e, como Rosa, abriga "certeza íntima e pré-concebido otimismo"

- nasceu bissexto, em 1968

- tem mãe viva, pai morto e duvida disso todos os dias

- gosta da vida ao ar livre

- raramente sai de casa

- digita rápido e escreve lento...

... para salvar a própria vida, como Clarice