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Perfil

Dizer quem somos soa estranho, como se estivéssemos completos, finalizados, como se a vida fosse linear e não a permanente e constante mutação em processo que encarnamos.
Sou tudo o que o mundo me ensinou a ser, mutante como os dias. Me desfaço em versos e me renovo em notas, versos que muitos talvez não entendam, notas que muitos talvez não ouçam. Minha mão cria a dança das letras através da melodia da alma. Dá cor às coisas que não têm cor, transforma, transmuta as palavras. Poeta é o olhar que pratico. É o olhar que enxerga o mundo no mosaico da poesia. Escrever é conhecer-se, é descobrir a própria história oculta. É decifrar o que nos pertence, o que se perde, o que se refaz.
Sou apenas um bardo. Nada além daquele que quero ser. Nada aquém daquele que fui. Sou o que sou e porque assim sou não sei. Sou o que sou porque assim me tornei. Resultado de tudo aquilo que senti, tudo aquilo que criei, das histórias que inventei, dos sentimentos que fingi, daquilo que sofri, daquilo que ganhei. Sou parte de um todo. Um caminho sem rumo. Um brinquedo nas mãos da matemática do caos. Sou apenas um bardo errante.
Me faço poeta para libertar as emoções que estão aprisionadas nas masmorras da alma, refugiar-me dos meus demônios, contar as mentiras que me tornam verdadeiro, palavras sem importância em seu momento derradeiro. Diante do escudo e da espada, na guerra eterna de todos os dias, na guerra desigual de todas as noites. Sou a soma de tudo o que vivi e que sonhei, um colecionador dos resultados que os dados do acaso fornecem.
Ergo minha bandeira de causa nenhuma, entre becos, ruelas estreitas, curtas, sem saída, vivendo o tempo que me resta, adiante de alguma fatalidade. Cruzando com os que partem, com os chegam, com os que se fragmentam contra o tempo, com os que plantam rosas nos jardins.
Na vida real meu nome é Sergio Almeida, apátrida, habitante de Niterói, RJ, vivendo o meu destino de fênix, um minuto de cada vez, nestes campos de desigualdade. Poeta pela necessidade fisiológica da prospecção de mim mesmo, em busca da minha humana tradução, independente de escrever. Me procurando, me perdendo, me recompondo, em busca de um espaço para chamar de meu.
Jardim: s.m. Segundo o Aurélio espaço ordinariamente fechado, onde se cultivam árvores, flores, plantas de ornato. Jardim: na vida real cidadão anônimo comum que também luta pela sobrevivência, ciente de que o Universo não é necessariamente justo ou injusto, alguém que ainda vive, que busca e espera, acerta e erra, que aceita o custo de estar vivo O jardim é uma tentativa humana de organizar a natureza, ordenar o desordenado e também uma alternativa para organizar e conciliar a metamorfose das emoções, ordenar as leituras de mundo, decifrar a própria existência. Mas Jardim também é aquele que me habita, meu alter ego que assina estas poesias. Um pedaço de mim que se aventura pelos portais onde nunca me aventurei. Aquele que enxerga até onde meus olhos não alcançam. Aquele que se traveste de sonhos e prova sua íntima parcela de morte e de vida. Aquele que espera e conquista. Que chora e sorri. Aquele que escreve o Livro dos Dias. Assim como o outro também é uma tentativa de organizar minhas impressões e leituras de mundo. É uma forma de registrar as emoções que me escapam pelos poros e que também me alimentam os sentidos. Minha âncora, meu sangue, minha sede. Em sua incandescência a nomear as coisas, apagar as sombras, revelar o íntimo das palavras. Meu maior patrimônio são os meus versos, com eles construo meu jardim.