"Sou o mais belo de todos os animais fabulosos. Tenho penas brilhantes, douradas e vermelho-arroxeadas. Vivo muito e, quando parto, torno-me cinzas que, do nada, quando menos se espera, renascem. Sou um pássaro evocado da mitologia, não nasci para ser preso ou escravizado; o horizonte é a minha morada e represento a liberdade. Alojo-me num ninho, nas palmeiras elevadas e não poucas vezes sou alvo de flexas mortíferas. As constantes ameaças fazem-me portador de uma habilidade peculiar. É bem verdade que possuo cargas. Cargas cruéis, difíceis e bem pesadas, por sinal. No entanto, nada se compara ao gozo da chegada à Cidade do Deus Supremo, em Heliópolis. É lá que descarrego o peso, a dor, os gemidos, os sussuros agonizantes. Represento a dialética, o ir-e-vir, o retorno, a continuidade. Possuo a expressão melodiosa, em alguns momentos triste quando o fim de um ciclo se aproxima. Chamo a atenção dos demais seres do Reino em virtude da minha singularidade: provoco a curiosidade, o espanto e o desencarne, mas das minhas cinzas posso ressuscitar mortos. A sensibilidade me é aflorada, fazendo-me atrair incenso, mirra, óleos de bálsamo e fragrâncias diversas. Muito prazer, sou Júnior..."