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Muito obrigada pela leitura.
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Gostaria de ter nascido na Roma de 30 ou 40 a.C., pra
alcançar as intrigas do triunvirato, a pressão
ditatória/carismática do Júlio César, as guerras que
explodiam em todo o mundo antigo trazendo riquezas pro
império através da pilhagem... Uma legítima romana
aristocrata (óbvio), com 3 escravos pessoais no mínimo;
mimada, intelectual, chata, vingativa, traiçoeira,
libertina e violenta; daquelas que nos jantares e festas
dá palpite sobre política na conversa dos homens e manda
crucificar os escravos por não terem lhe espalhado
direito os ungentos pelo corpo após o banho.

Provavelmente casaría-me em um contrato arranjado desde a
minha infância, com o filho de um casal de antigos amigos
de minha família. Meu marido daria apoio a César e
enquanto ele estivesse em combate, liderando alguma
legião lá por perto da Gália, roubando, estuprando e
escravizando bárbaros, eu, puta da cara por ter que
cumprir com os deveres domésticos de uma patrícia romana
de bom nome, me devotaria a Baco e em honra ao mesmo,
imolaria um bode por semana e me banharia no sangue de
touros para que meu futuro fosse lido pelos oráculos.

Teria dois filhos no intervalo de tempo de dois anos
quando meu marido voltasse pra casa; primeiro uma menina
linda, loira, de olhos verdes, pentelha e teimosa igual à
mãe; depois um menino de cabelos pretos, lisos e olhos
verdes, altivo, orgulhoso e com inclinação à política já
desde a infância. Após anos, meu marido pediria divórcio
para casar-se com uma nova-rica qualquer, em prol de
alianças familiares mais favoráveis a seu posto militar.
Eu iria viver em uma casa de campo, promoveria bacanais e
rituais memoráveis, casaria meus dois filhos com algum
membro maravilhoso(a) e cobiçado(a) de uma tradicional
família aristocrata. Envelheceria rica, com fama de cruel
e rabugenta; planejando vingança contra o ex-marido e a
esposinha deplorável; estudando retórica e fazendo
aparições no Coliseum após os jogos para conhecer os
gladiadores e discutir política com a nata social da
época. Ah, e sempre linda, claro!


Também me contentaria com o século XVIII, nascida no seio
de uma família aristocrata (ÓBVIO again), com pais
detentores de Marcos no norte da Itália. Todo aquele
clima de iluminismo, naturalismo, razão e liberdade me
inflamariam de uma forma indescritível e eu viveria
assustando e enchendo o saco da minha família com manias
de leitura. Gastaria fortunas com livros clandestinos,
manuscritos antigos, relíquias fetichistas de religião e
no financiamento de libertinos. Mostraria a partir da
adolescência, traços de inconformismo, ateísmo e
crueldade.

Meus avós colocariam a culpa no mimo em excesso da corte;
já meus pais, culpariam os infames livros abarrotados no
meu quarto. Como de costume e à contra gosto, me
enviariam pra um convento de clarissas afastado da
cidade, à fim de me fazer sossegar até a data do meu
casamento arranjado com um Duque chato, velho e
nojento... E quando a fama desse lugar vingasse, eu
entraria em contato com o lesbianismo e sairia de lá,
pior do que entrei.

Casaria, iria morar em um castelo na França e repudiaria
o meu marido até o último fio de cabelo. Aproveitaria as
constantes festas da corte para fazer contato com os
intelectuais da época e publicaria periodicamente
panfletos, protegida por algum pseudônimo. O marido nunca
presente em função das viagens à negócios, deixaria o
castelo vazio e livre para os banhos de sangue eu que
daria sob qualquer motivo: empregados sofreriam nas
masmorras, visitados por mim todas as noites. Quem me
rejeitasse, ofendesse ou simplesmente não me agradasse,
teria um lugar reservado nos grilhões das pilastras dos
subterrâneos do castelo. Pessoas sumiriam
repentinamente... e tudo seria abafado com uma grande
quantia em dinheiro. Teria um filho apenas, e causaria
vários escândalos entre os pseudo-moralistas de sangue
nobre. Uns seriam cúmplices de meus gostos sádicos... já
outros apareceriam misteriosamente mortos no amanhecer de
um dia qualquer.