LUIGI PIRANDELLO
E os personagens que encontraram seu autor
 
   Um dramaturgo que chegou ao seu primeiro sucesso teatral aos 50 anos de idade, depois de ficar dez anos sem escrever para teatro porque seu primeiro texto não tinha sido montado,  poderia ter se tornado um fracasso. Mas Luigi Pirandello, que ficou conhecido inicialmente por romances como “O falecido Matias Pascal” (1904) e “Os velhos e os nobres” (1913), deu tons modernos ao seu teatro realista, impregnado de metalinguagem e psicologia, e compôs uma obra dramática que lhe garantiu o Nobel de Literatura em 1934.
   Nascido em 28 de junho de 1867, em Girgenti, na Sicília, o escritor italiano navegou por várias formas literárias – foi poeta, contista e romancista antes de chegar à síntese dramática de suas peças. Sua formação em Letras (Filologia) pela Universidade de Roma e seus estudos posteriores em Bonn, na Alemanha, criaram as bases para um teatro que abusou da metalinguagem, transformando o próprio fazer teatral em personagem, cenário e trama. Pode-se dizer que há sempre certo tom de ironia na obra de Pirandello, que expôs o caráter fictício dos personagens para chegar à verdade sobre as pessoas.
   A primeira peça de Pirandello, “O Torniquete”, surgiu em 1899. O comediante Flavio Andò prometeu encená-la, mas não o fez – decepcionando o autor. Pirandello engavetou o texto até que, em 1910, Nilo Martoglio, criador do Teatro Metastásio, o procurou para encenar “O Torniquete” e pedir que o escritor adaptasse para teatro alguns dos contos que vinha publicando em livro e na imprensa. Dessa parceria nasceram “Cidras da Sicília” (1913) e “Liolà” (1916), que muitos consideram sua obra-prima.
   “Assim é se lhe parece” (1917) foi o primeiro grande sucesso de Luigi Pirandello e, somado a diversos textos escritos naquele ano e no seguinte, como “A razão dos Outros”, “Mas não é uma coisa séria” e “O prazer da honestidade”, conduziu o autor à condição de principal dramaturgo de seu país. A marca definitiva do que seria o estilo de Pirandello veio em 1921 com “Seis personagens à procura de um autor”, onde ficção e realidade se confundem, e “Esta noite se improvisa” (1930), um verdadeiro exercício aberto de teatro.
   Buscando criar sua própria companhia de teatro, Pirandello filiou-se ao partido fascista e conseguiu apoio oficial. Em 1925 surgia o Teatro D’Arte, com o qual viajou o mundo, chegando inclusive a se apresentar no Brasil, em 1927. Sua última peça, “Os gigantes da montanha”, não chegou a ser concluída. Em 10 de dezembro de 1936, faleceu em Roma, quando trabalhava na adaptação cinematográfica de “O falecido Matias Pascal”.
 

(Parte da coletânea GENTE DE TEATRO, de William Mendonça. Direitos reservados.)