BARRETO COUTINHO
O Médico e o Poeta
 

     Erminio Barreto Coutinho da Silveira nasceu em Limoeiro do Norte, Pernambuco, em 30 de junho de 1893. Medico atuante, veio a se tomar um dos nomes mais conhecidos da Trova brasileira. Por muito tempo se discutiu sobre a autoria da famosa trova «eu vi minha mãe rezando», ate que pesquisas realizadas pela própria UBT confirmaram ser ele o autor.
     Barreto Coutinho chegou ao Paraná em 1939, vivendo e exercendo a Medicina ate 1966, quando se aposentou. Publicou muitos livros de versos, e em especial um volume de memórias intitulado « Um Medico de Saúde». Combativo por natureza, publicou também um livro polêmico: «Fariseus da Profissão». Medico formado no Rio de Janeiro em 1918, ingressou no serviço public° em 1944, tendo chefiado vários postos de se saúde. Antes de ir para o Paraná, foi clinic° em Limoeiro, Pau d'Alho.
     Posteriormente exerceu a profissão em Bela vista, hoje Mato Grosso do Sul. Um dia virou fazendeiro! Não deu certo. Vendeu a fazenda e foi praticar pediatria em Campo Grande, onde morou por nove anos, ate 1939. Casou-se em 1921 com Rosa Pedra Coutinho, de família baiana, e filha de militares. Seu tio, inclusive foi o comandante da ocupação de Assunção, após a Guerra do Paraguai. Este tio mais tarde veio a se casar com a viúva de Solano Lopes. Mas foi nos III Jogos Florais, realizados em Juiz de Fora, que ele entrou para a historia da Trova Brasileira. Neste encontro ele mostrou para Colbert Rangel Coelho, da então Guanabara, um velho recorte de jornal pernambucano, onde estava o poema «Mãe». Colbert escreveu sobre o assunto e mais tarde leu o poema em reunião dos trovadores cariocas. Nelson Vaz, que ha muito tentava descobrir o autor desta trova, e que notabilizava-se pelas pesquisas que empreendia para Identificar autorias de outras trovas famosas, interessou-se pelo assunto. Ele escreveu cartas a bibliotecas, poetas, jornais, colegas trovadores de Recife, na tentativa de encontrar a data de publicação do recorte que Barreto Coutinho apresentou. Tudo em vão. Mas Nelson Vaz, que também era pernambucano não desistiu e finalmente encontrou nos arquivos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, um exemplar do jornal «A Província» de Recife, de 28 de janeiro de 1912, que publicara a poesia de Barreto Coutinho na primeira pagina.
     Sobre este episodio disse Luiz Otavio: «Pode ser que ainda coloquem em duvida a autoria do poema. Se houver documentos anteriores que provem não ser Barreto Coutinho o autor, estamos prontos para ratificar e divulgar a descoberta, mas antes que tal aconteça, esta trova, tão singela e das mais lindas de nosso idioma, será, para n6s, de Barreto Coutinho. E foi assim que Barreto Coutinho, um pernambucano, filho de Antonio Barreto Coutinho da Silveira, um dos maiores Senhores de engenho e bangue de Pernambuco se tomou ícone. A trova original no entanto, era ligeiramente diferente, mesmo porque faz parte de um poema:
 
Uma vez vi-a rezando
aos pés da Virgem Maria.
Era uma santa escutando
o que outra Santa dizia.
 

     Sobre isto disse Luiz Otavio, ao comentar a historia desta trova no jornal `Trovas e Trovadores', diz:: «Mas o povo às vezes é um colaborador perspicaz e inteligente. Destacou esta quinta quadra, que é de tal valia, de tanta riqueza de sentimentos e de forma de expressão, que teria mesmo que se libertar do poema e criar vida autônoma emancipada. E surgiu então, do povo, o primeiro verso modificado: 'Eu vi minha mãe rezando'. Em suas pesquisas para escrever o livro «Meus Irmãos, os Trovadores», Luiz Otavio encontrou o poema como sendo de autoria de Catulo da Paixão Cearense, e chegou mesmo a copiá-lo, mas ao aprofundar suas a pesquisa da obra de Catulo, não a encontrou e preferiu não publicá-la.
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MÃE
Barreto Coutinho

Mãe — alma querida e santa —
astro de divino brilho,
cuja luz a treva espanta
dos dissabores do filho.
 
Mãe — criatura tão cara,
do filho o mais santo altar... —
Quem perde essa gema rara
nunca mais ha de encontrar!
 
Mesmo as aves, essa eterna
 verdade mostram nos ninhos:
que se fez a alma materna
de amor, ternura e carinhos.
 
Quando a sorte me arremessa
as magoas, elas tem fim,
pois minha mãe nunca cessa
de pedir a Deus por mim.
 
Uma vez vi-a rezando
aos pés da Virgem Maria.
Era uma santa escutando
o que outra santa dizia...
 
Se uma coisa me tortura
e o pranto aos olhos me vem,
minha mãe — santa criatura
chora comigo também!
 
E então nos seus olhos leio
meu pranto o que ha lhe causado: —
S6 magoas ao santo seio
que a dor tem santificado!
 
Por vossa infinda bondade,
Deus que eu creio e reconheço,
dai, pois, a mais longa idade
ao ser que eu tanto estremeço!
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Suplemento Cultural N° 29 do Informativo UBT São Paulo n° 421 - Julho 2013
Texto extraído de recortes de jumas enviados por A. A. de Assis, e adaptado por JB Xavier
UBT
Enviado por UBT em 21/01/2014
Reeditado em 21/01/2014
Código do texto: T4659210
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