80 anos sem Virgílio Calegari

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Neste ano de 2017, um nome que se destacou no universo da fotografia, ao registrar, com sua lente, personalidades e as transformações urbanas da capital gaúcha, completa 80 anos da sua morte. Símbolo e referência na arte de fotografar, Virgílio Calegari (1868-1937) deixou seu nome registrado na memória iconográfica da nossa cidade.

Com a segunda leva de imigrantes italianos, Virgílio Calegari, oriundo de Bérgamo, na Itália, chegou, em 1881, ao Brasil. Aos 13 anos de idade, acompanhado dos pais e de três irmãos, estabeleceu-se em Caxias do Sul. Após alguns anos, em 1893, vivendo em Porto Alegre, montou seu primeiro atelier na Rua do Arroio, atual Bento Martins. Ao exercer, na prática, o seu ofício, aprimorou seus conhecimentos com fotógrafos já estabelecidos na capital gaúcha.

Em 1896, ele se mudou para a Rua dos Andradas, nº 171. Logo, este endereço tornar-se-ia símbolo de prestígio na virada para o século 20 e durante os anos que se seguiram. Seu famoso atelier se localizava entre a Caldas Júnior - antiga Payssandu-, e a General João Manoel. Este trecho, na época, era conhecido como a quadra dos italianos.

As transformações, que modificaram o visual citadino e o comportamento do porto-alegrense, sob a inspiração do positivismo de Augusto Comte (1798- 1857), foram registradas por fotógrafos da época, principalmente, pela lente de Virgílio Calegari. Suas fotografias, ao longo do tempo, ilustraram revistas importantes, como a Máscara (1918- 1928 ), Kodak (1912 - 1923) e a Revista do Globo (1929 -1967).

Retratista famoso, Calegari fotografou nomes importantes da nossa sociedade. Seu sucesso se deve, na prática, aos trabalhos realizados em seu ateliê, no qual a fotografia era associada à arte. Imagens de personalidades, com destaque social e político, eram reproduzidas em retratos a óleo, a exemplo de Júlio de Castilhos (1860-1903).

De acordo com a historiadora Carolina Martins Etcheverry, a primeira dama do estado, Carlinda Borges de Medeiros, foi várias vezes fotografada pela câmera de Virgílio Calegari. O talento deste fotógrafo se evidencia ao captar imagens de uma Porto Alegre que progredia de forma vertiginosa dentro do contexto de “ Ordem e Progresso “, estabelecido após a Proclamação da República (1889) e da implantação da ditadura científica por Júlio Prates de Castilhos em nosso estado.

A genialidade de Calegari ao fotografar registrou as mudanças da urbe de maneira sistemática e incansável que resultou em trabalhos, como “Vistas do Novo Abastecimento d’Água”, encomendado pela Intendência Municipal e o “Álbum de Porto Alegre” editado, em seu Atelier, em 1912

Calegari participou de importantes eventos ligados às artes, sendo premiado em diversos concursos de âmbito nacional e internacional na área da fotografia. No período de 1901 a 1910, acumulou para si oito prêmios e uma distinção da Coroa italiana. A “Belle Époque gaúcha” ficou registrada pela lente deste artista italiano que adotou Porto Alegre, fazendo de seus cidadãos e do cenário urbano o motivo inspirador da sua arte.

Artigo publicado em ZH de 22 de janeiro de 2017.

Pesquisador e Coordenador do Setor de Impre