QUEM TEM OUVIDOS PARA OUVIR QUE OUÇA

Eu não saio pelas ruas para pleitear causas políticas,

não vou no meio da plebe, dos mistos cidadãos,

porque são mistos e não homogêneos?

Não saio junto a multidão, pois para eles sou estranho,

não reconheço nenhuma face amiga, embora a causa é justa.

Trago no peito a mesma revolta, ou até revolta maior...

Mas não pinto a minha cara, não grito palavras de ordens,

nem saio xingando palavrões, embora amo xingá-los.

Nem me sinto mais santo ou melhor do que muitos deles,

ou até complexado me sinto por não ser como eles,

mas sei que o melhor a fazer não é sair pelas ruas,

vendo mulheres nuas (ou de minúsculos shorts),

e até mesmo com seios de fora, como a liberdade.

Porque, para mim, isto não é liberdade, é falsidade,

não digo, que a manifestação em si seja falsidade,

nem que nisto tudo que eu vejo, seja inverdade,

mas sei que nos seus gritos não há potência suficiente

de sons para chegar aos ouvidos de alguém lá em cima.

Por que? Porque depois de tudo, a vida volta ao

normal e as coisas continuam acontecendo e nós

continuamos roubados, de bolsos vazios, não eles,

os manifestantes, mas eu, o verdadeiro cidadão

que verdadeiramente está afetado pelo sistema

que rege a corrupção dezenas de anos, e que os meus

olhos, meus ouvidos, meu paladar e tato sentiram

na pele, até fome eu senti. Temo que tudo isso seja em vão.

Por isso não saio pelas ruas, como eu vi minhas filhas

saírem, e agora? Tudo continua a mesma coisa!

E os manifestantes também, saem por aí bebendo

cervejas mais caras, comendo porções mais caras, num pub

classe A. E eu, cidadão sem classe, desrespeitado

pelo nada, continuo aqui, com os mesmos problemas,

sem solução, e os problemas, de ano em ano, convertem-se

em outros tipos de problemas, mas eu continuo o mesmo,

não saio em manifestações, porque a minha causa não está nas ruas, está lá dentro do congresso nacional, naqueles por quem somos representados e que jamais serão capazes de ouvir a voz do povo, porque o povo sou eu, porém, ainda não gritei lá nas portas deles, pois eles estão em seus sítios, em suas fazendas e seus ricos retiros pessoais que custam milhões de dólares para não nos ouvir.

(YEHORAM)

YEHORAM BARUCH HABIBI
Enviado por YEHORAM BARUCH HABIBI em 20/04/2017
Reeditado em 21/04/2017
Código do texto: T5976551
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