Livro pendente

Eu era um jovem prepotente, egocêntrico e deprimido. Dezessete anos, mas com o entusiasmo de um velho de setenta e sete. Morava com meus pais na periferia de uma cidade ao norte do Brasil, mais especificamente no Pará. Ofuscado pela minha própria sombra, meus dias se resumiam em: pela manhã acordar mais cedo que todos da casa pra fumar cigarros escondido; tocar violão; escutar bandas de rock pouco conhecidas; me masturbar pelo menos duas vezes ao dia; jogar qualquer game online para passar o tempo; trocar mensagens de texto com as ninfetas do colégio; e claro, beber pra caralho. Por vezes interagia com alguma garota que parecia ser interessante, me relacionei com a maioria delas e sempre foi um erro. Mas era dos erros que dava risadas e me enaltecia sempre que encontrava diante do espelho, só assim eu pareceria tirar algum proveito daquela vida promiscua que eu levava, rindo da minha própria desgraça. Xingava e manifestava meu descontentamento aos céus sempre que fosse conveniente. Vivi maior parte de minha vida em uma cidade do interior chamada Rondon, onde todos me conheciam por “Lucas, o filho do Radialista Comediante”, meu pai era bastante famoso na cidade por fazer o primeiro programa da manhã na única rádio que existia na cidade. A cidade tinha uma cultura sertaneja, com a economia voltada para o campo. As pessoas tinham o hábito de acordar as cinco horas da manhã com o canto do galo, valorizavam muito um radinho de pilha, e era onde meu pai se destacava. Lá eu cresci, brinquei e aprendi a sofrer e depois me tornei um babaca. Desde lá já detestava as pessoas... Quando me mudei para capital passei a odiar mais de tudo um pouco: Começando pelos ônibus lotados; o transito caóticos, as filas que eram como centopeias humanas; as pessoas mal-educadas; a quantidade de lixo nas calçadas; o enorme índice de violência, enfim... A distância quilométrica do útil ao agradável...

- G.