Carta para Tamar (5)
( Da série Cartas que escrevi...)

Lavras, 13 de fevereiro de 2009
(Sexta feira)
 
Querida Tamar
 
          Receber carta sua é sempre uma surpresa agradável, tanto para a mente quanto para os olhos.  Só de ver o envelope o meu eu sensível fica completamente extasiado: desde o aproveitamento de qualquer papel para se transformar em envelope, até os incríveis recortes com que você o ornamenta. Fico pensando nas pessoas pelas quais ele passa nas mãos. Certamente cada uma delas deve parar e ficar observando e por mais sisuda e ocupada que seja tenho certeza de que seus olhos brilharão e seus lábios se entreabrirão em um sorriso feliz. Mesmo que seja para perguntar: Quem é essa doida?  Arte Postal. É isso mesmo. A sua denominação para o seu trabalho é perfeita. Preciso aprender com você.

      Por que ficamos sem nos comunicar por tanto tempo? Eu também não sei. Acho que  respondi a sua última carta pelo meio usual que utilizo: a net. E se eu não estiver enganada, você estava sem computador e acabou não lendo. Ou esqueceu o endereço do meu blog. Qualquer coisa assim. E o tempo foi passando e nós nos afastando um pouco. Como é de costume neste mundo corrido onde a gente tem sempre muita coisa para fazer e algumas acabam postergadas. Mas pode acreditar. O meu carinho e interesse em manter nossa amizade continuam os mesmos.

          Família é a coisa melhor que existe, seja perto ou longe e mesmo que no dê amolações. Lamento que você tenha ficado longe dessa menina encantadora que é a Sofia, mas tenho certeza que o amor entre vocês duas continuará o mesmo. Nas raízes de Sofia sempre estarão os cuidados que você lhe dedicou e essa base maravilhosa que você lhe incutiu, que é o amor a arte. Que sua mudança seja proveitosa. A sua e a dela. bem explicado. Em mudanças há sempre um lado bom e um ruim mas penso que devemos investir no renascimento sem ignorar a memória que sempre estará presente. Quanto a sua filha, fiquei feliz de saber que agora ela está em um bom emprego estável, fazendo o que gosta. Não conheço João Pessoa, mas todos dizem que é uma cidade muito boa para se viver. Meu cunhado Wilson esteve trabalhando lá por uns tempos e cogitou-se inclusive em mudarem todos para lá. Mas agora decidiram ficar em Recife onde já estão bem adaptados, inclusive eu, que adoro a cidade e pretendo voltar breve para visitá-los. Talvez em uma dessas viagens a gente acabe se conhecendo. Cara a cara. O que será sempre emocionante.

          Então estamos no ano do boi. Não sei absolutamente nada sobre isso mas espero que estar no ano do boi seja algo bom. Estou cansada de ver coisas ruins acontecendo no mundo.

         E a senhora, nessa altura da vida, fez dois vestibulares e já sabe que passou em um deles ? Que beleza! Mas se já fez a matrícula então é certo que vá morar em Salvador? Parabéns! Deve ser fantástico voltar aos estudos e principalmente na área que ama. Artes. Ou você vai optar por Museologia caso tenha passado e mudar para Cachoeira?

          As fotos em seu blog estão fantásticas. Adorei o nome: olhokaolhodopombo. Em contraste a bucólica cena que você prensenciou enquanto escrevia sua carta para mim, estou aqui, insone, ouvindo a chuva cair lá fora, bastante aborrecida porque aparentemente é dessas chuvas que emendam os dias e neste final de semana pretendo dar início ao movimento cultural na Praça de  minha cidade com o projeto Pra ver a Banda na Praça. Mas se chover, vamos ter que adiar, o que muito vai me aborrecer.E aos músicos também.
Um afago em Golda e seus filhotinhos mas confesso: não consegui absorver o nome do que se parece com o Gato Félix.

          Sua lista de livros lidos mostra o seu bom gosto em literatura. Meu nome é Vermelho eu também li. Mas os outros vou anotar para futuras compras.Ou leituras. A Emparedada está na fila. Mais uma vez agradeço você tem me presenteado com ele. Não pense que não gostei porque ainda não o li. Vai chegar a hora dele.

       No mais a vida continua. Continuei com meu trabalho comissionado na Prefeitura Municipal de Lavras (Chefe do Depto de Cultura) e faço uma horinha ainda na minha fábrica de pães, onde cuido das finanças. Que são bem difíceis de cuidar, pois vivemos trocando seis por meia dúzia. Não sei se você ficou sabendo já que ficamos praticamente um ano sem nos comunicarmos, mas em junho, após uma doença trágica e rápida um de meus irmãos morreu e não posso dizer que isso não mexeu comigo.Mexeu e muito mas vou dando um jeito de continuar a vida. 

          E, como toda carta que se preza tem que falar do tempo, aqui está um horror: chove e esfria, a chuva vai embora e esquenta como um forno, isto todos os dias.
 

         Seu desejo é o meu: tomara que não nos percamos de vista outra vez.
                         Um abraço,
                                        Merô