RECADO (ATRASADO) AO MEU AMOR

A madrugada está chegando e a insônia perdura. O corpo dolorido, inquieto, se agita uma, duas, mil vezes sobre os lençóis desfeitos. O cérebro cansado acumula pensamentos, tenta dissipar as dúvidas, busca uma resposta. Um desejo me assalta e os ponteiros do relógio assinalam uma vontade que, se fosse irracional, me faria abrir a porta e meus passos me fariam te encontrar. Foram teu olhar desprotegido, tua tristeza resignada que me deixaram aflita. Foi a necessidade de uma palavra que senti em ti, e eu não a soube dizer. Agora, a angústia me rodeia e eu queria retornar no tempo para acariciar teus cabelos. Eu queria estar contigo para poder falar....

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Sabes, todos nós, como seres imperfeitos que somos, reprimidos por fórmulas decoradas desde a infância, rotulados por preconceitos, estamos sujeitos a momentos de crise. Por vezes, uma ansiedade nos assalta, uma insatisfação cresce em nosso íntimo sem motivo aparente. Uma sensação de vazio, de perda, está ali, tão dentro de nós, e não sabemos localizá-los. Estamos sós... Uma barreira enorme nos separa do resto do mundo. E não nos protege. Ao contrário, nos torna vulneráveis _ qualquer gesto ou palavra menos ternos nos magoam. Estamos perdidos na escuridão sombria de nossos pensamentos, não distinguimos uma luz que oriente nossos passos. E as pessoas que nos rodeiam parecem tão frias e indiferentes frente ao nosso desalento! Como seria bom deixar de ser um ente rotulado, deixar cair a máscara de homem forte que a vida nos fez vestir! Como seria bom poder falar, gritar, esmurrar!

E por que não?

Chegou a hora de chorar....

Não! Metodicamente, não! Deixemos que os sentidos reajam, que a tristeza e o desespero nos libertem do entorpecimento e façam as lágrimas rolarem. Após a tempestade vem a bonanza... A calmaria nos permitirá distinguir outros seres que nos amam, que nos estendem a mão. Veremos então que nunca estivemos sozinhos, que apenas nos fechamos.

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Madrugada já... O papel aceitou meu desabafo. Talvez agora o corpo obedeça ao cansaço e o sono chegue. Vou dormir, vou sonhar que te estendo a mão, que afago teus cabelos e te falo com ternura. Vou fantasiar a realidade e dar vazão ao meu desejo de caminhar contigo uma "estrada colorida", que nos leve a um mundo melhor.

Giustina
Enviado por Giustina em 10/09/2009
Código do texto: T1801909
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