DE FILHO PARA PAI

Papai, está chegando o Dia dos Pais e quero lhe dizer tudo o que está em meu coração. Coisas que nunca foram ditas, mas que você merece saber. Quero falar do pai maravilhoso que você é para mim. Quero que saiba que sou muito feliz por tê-lo comigo, pois é com você que vivi os melhores momentos de minha vida. Preciso muito lhe agradecer por tudo.

Desde muito pequeno lembro-me de você cuidando de mim. Sentados à mesa, você com toda a paciência colocava comida em minha boca. Tinha medo que eu pegasse uma anemia e ficasse fraquinho. E enquanto eu não engolisse os últimos pedacinhos de beterraba você não me deixava sossegado.

Era bom brincar contigo na calçada, na pracinha. Você me deu uma bicicleta e me ensinou a andar para a gente passear juntos, lembra? Os meninos da vizinhança espichavam olhos invejosos quando nos viam sair no portão. Tinham pais que não eram como você. Ah, como eu gostava de tê-lo por perto...

E as “lutinhas” no tapete, hein? Mamãe, brava com a gritaria e a bagunça, mas quem disse que a gente ligava? Você fazia cara feia pra ela e voltava a rolar comigo. Fingia que era um monstro querendo me pegar e eu rindo até não poder. À noite, eram os livros. Sempre havia novidades. Você lia histórias fantásticas que me faziam viajar com sua voz que imitava bichos e feiticeiras. Aí, eu ia ficando molinho, molinho, os olhos pesando até dormir...

Quando entrei pra escola, que emoção! Você fazia questão de me buscar todos os dias. Hoje sei até que pegava mais cedo no trabalho, para estar às 5 na porta da escola. Ali me abraçava, como se não me visse há anos. E perguntava sempre para a professora sobre os meus progressos do dia... Dona Nancy lhe dava as boas notícias... E você com aquele sorrisão desse tamanho!

Ah, quando eu ficava doente! Você colava no meu pé. Vigiava a noite inteira, acho até que gastava o termômetro de tanto medir a febre. Injeção, nem pensar! Eram as colherinhas de xarope... Você recomendava sempre ao farmacêutico “vê um de gostinho bom”... Nunca vou me esquecer daqueles sabores cereja que vinham também com gosto de carinho...

E foi assim meu companheiro, que a gente nunca se separou. Vivemos tudo que um pai e filho podem viver juntos. Pescaria no Rio Santana, fim de semana no Recanto dos Passarinhos, férias na praia, passeios a cavalo na fazenda do tio Viano, viagens, parques de diversão, circos... E eu cresci. Aos 15, a crise das espinhas, a cabeça aos turbilhões... e você ali... Longos papos no fundo do quintal, lembra? Você fingindo que remexia o canteiro de alfaces, eu escutando suas dicas para achar meu lugar no mundo... Fase difícil, velho! Mas, muito mais fácil com você...

Aos 22, a formatura na Engenharia. Meu nome sendo chamado no palco e você na plateia. Foi o único que gritou “É você, filhão!”. E pensa que achei ruim? Acharia se não lhe tivesse ouvido! Afinal, o diploma, em grande parte, era seu também. Pensa que me esqueci de como me ajudou, do começo ao fim, com os trabalhos e os estágios?

Pois é, meu pai, que saudade! Que saudade de você que nunca existiu na minha vida! Ah, que bom seria se essa história não fosse só a do meu primo João Carlos... Fosse também a minha...

(Lembrando nesta data, meu querido pai que deixou um importante legado de honradez, dignidade e bom exemplo a mim e aos meus irmãos)