Sobre contas, sobre a vida

“A vida é um sopro”, essa frase ficou de um documentário sobre Oscar Niemayer, não lembro se foi dito sobre ele ou se ele mesmo a pronunciou. Sim, a vida é um sopro, uma chama, e quando estamos à beira de vê-la apagar-se aí mesmo passamos a valorizá-la mais. Comigo aconteceu em 2008, final de janeiro, quando fui chamada para, de fato, começar a viver. Acordei numa UTI e o primeiro pensamento que tive foi: “Obrigada, Deus, vivo” e de lá para cá tanta coisa mudou. A começar pelos escritos, que passei a publicar, uma urgência em deixar registro do vivido vi de mim se apoderar, mas depois fui relaxando, o que é muito natural. A poeira assentou-se, fui aprendendo a me conhecer melhor, a amar e a me amar muito mais do que antes, a viver com muito mais fé e um dia de cada vez. E fé é o que desejo a quem sente aproximar-se a morte, e isso por ser vítima de uma doença grave ou terminal. Acompanhar pessoas que passam por esta ‘espera’ é algo desesperador, pela impotência e pequenez que constatamos diante da vida, pelas tantas confrontações. Vi minha mãe adotiva definhando a cada dia e nunca esqueço tal visão. Por mais que eu soubesse que o fim de seu sofrimento estava próximo, não quis acreditar quando ela partiu, foi muito triste, é muito triste para todos nós. E é pensando em alguém que nunca vi pessoalmente, mas que vim a conhecer através de seus escritos que dei-me a registrar essa breve reflexão. Este ano completo quarenta anos e se me perguntarem o que vale a pena nesta vida, digo, sem hesitar: ‘amigos e amizade’, pessoas que a vida vai entrelaçando em nossa vida como se fosse um colar de contas bem trançado e que resiste aos mais agressivos puxões, pessoas que às vezes nem sabemos que estão ligadas a nós. Eu sou uma conta que a vida entrelaçou à dessa pessoa em quem agora penso, colada com seus escritos, com a aura de ser de grande valor que nas entrelinhas de seus textos se pode ler. Não sei o que o futuro nos reserva a todos, mas a essa pessoa eu queria agradecer por tudo o que tem escrito e compartilhado, dizer-lhe que oro por si e que fez e continua fazendo diferença em minha vida, que sou uma continha em seu colar. Aprendi a ver a morte como um rito de passagem, a dor maior é o medo da aceitação. Certa vez eu tive um sonho em que me instruíam a não ter medo ao passar pelo portal, pois o medo era ilusório e era a fonte de toda a dor, passei e não doeu. Não sei de onde vêm os sonhos, ou se devemos neles crer. Eu arrisco, confio. De todo modo, ninguém está sozinho e você, a quem dirijo meus mais belos pensamentos, muito menos. Você não está só, nunca esteve nem estará. Que Deus lhe ajude a controlar o medo nos momentos mais difíceis e a jamais perder a fé.

Com grande carinho e esperança

Helena Frenzel
Enviado por Helena Frenzel em 07/07/2013
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