NO LIMIAR

NO LIMIAR

Encaro meus passos até onde cheguei, a minha trajetória.

O que fiz aos outros no caminho e o que fiz de mim.

Sento-me a beira da minha alma a contemplar a história.

Desfile de atos e fatos contabilizados no tempo enfim.

Inquietante sentir dos impulsos da minha própria incúria

O silencio a trovejar no espaço mais profundo do peito

As ondas do mar a açoitarem sobre as rochas a sua fúria

E o limo verde a agarrar-se nas pedras como único jeito.

Algoz dos meus próprios infortúnios empunho a adaga

Carrasco que sou a rondar insistente cada pensamento

Naquilo que faço , que fiz ou deixei por hora de fazer

Às vezes tão cruel com o possível, hora à esperança afaga,

Como resquícios de fé, balsamo suave que alivia o tormento,

No limiar afiado entre o nada imposto e tudo que ama e crê.