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Bom dia, querida professora.

Parece glichê, mas, a verdade é que já digitei tantas vezes no seu inbox (e apaguei) que cheguei à conclusão de que escrever aqui no Word, de modo off line, é mais seguro, menos vergonhoso (pra mim) e posso por em ordem as ideias que quero lhe passar.

Tu se lembras daquele dia em que eu te escutei atenciosamente, lá na cantina da faculdade? Provavelmente não. Mas, aquele dia tu disse com tanta precisão e sabedoria sobre um assunto (o qual não me lembro bem se foi sobre política...) que eu não pude mais esquecer seu timbre de voz, suas expressões faciais suaves, seus dentes brancos (kkkkkk, sim eu me atento aos mínimos detalhes), enfim... Não esqueci você nunca mais, desde aquele dia.

Às vezes a gente se cala pra escutar o coração. Naquele instante eu escutava você e o meu amiguinho coração. Confesso que não sabia pra quem eu dava mais atenção...

Mas, acho que esqueci o que esse vermelhinho tava dizendo, porquê de qualquer forma ele me lembraria depois, dias a fio, que você é especial. Sempre será especial!

Bom, não cheguei até aqui pra deixar o que seja, talvez, uma oportunidade de me deixar ser feliz e de fazer alguém feliz também.

Quero lhe pedir que me perdoe, antes de chegar onde quero, por saber (eu) que tu és casada, muito bem casada, aliás, e eu sei que, como eu tenho participado de muita militância (feminista e lgbt) dentro e fora das redes sociais, sei melhor do que ninguém o quão desrespeitoso é “dar em cima” de uma pessoa que esteja comprometida. Quero salientar que não estou “dando em cima” de você, muito pelo contrário, se eu tivesse fazendo isso, não estaria aqui digitando e escolhendo muito bem as palavras... Eu estaria fazendo isso na maior “cara dura”, quando nos encontrássemos. Bem, não farei isso nunca. Não tenho essa capacidade imoral. Mas, perdoe-me mesmo assim, certo?

Outra questão que quero deixar bem clara é o fato de que eu não quero estragar seu relacionamento atual. Se ele vai bem ou mal, isso não é da minha conta e nem é minha intenção ser um “pé no saco” e estragar o amor alheio.

Outro motivo pelo qual prefiro me expressar aqui é o fato de que tu podes queimar essa carta, sem deixar que essa caísse em mãos erradas e me exponha ao ridículo. Você sabe que estamos sujeitos aos olhares impiedosos de uma sociedade pseudomoralista, LGBT Fóbica, e a última coisa que quero é perceber estes olhares me traspassando com fúria e pré-julgamentos, como tem acontecido toda minha vida. Digo isso, por que já aconteceu essa barbaridade. Escrevi pra uma pessoa linda, pedi humildemente que não expusesse a tal carta e, justamento o oposto ocorreu. Mas, ainda bem que o ocorrido só chegou a meus ouvidos depois de uns dois anos, e fiquei mais tranquilo por não ter que dar satisfações a ninguém e nem tive que andar de cabeça baixa devido à vergonha que eu poderia ter ficado. Mas, não tive que fazer isso.

Bem, chega de encher linguiça, né mesmo? Vamos ao assunto que me fez chegar até esse ponto, que se resume em uma única pergunta: Se, acaso, você chegar a algum dia estar descompromissada, poderei eu ter uma chance contigo?

Daí tu me perguntas: por que isso agora, depois de tanto tempo?

Responderei-lhe baseado em minhas experiências, que não são poucas: não vou deixar uma oportunidade assim passar.

Disseram-me, antes que eu chegasse a escrever tudo isso, que o máximo que eu posso receber é um “sim” ou um “não”. Se acaso for “não”, que seja por escrito, se assim tu desejar, no inbox, por que assim não estará expondo você e nem a mim pra essa gente cheia de pré-conceitos e que não se dispõe a chegar perto nem pra perguntarem do que precisamos realmente.

Bom, quero aqui deixar um grande abraço a você e seus meninos. Vocês são muito lindos e continue amando, esse amor que é revolucionário, e tu sabeis melhor que ninguém que é assim que mudaremos a nós mesmos, primeiramente, depois ao mundo, tornando-o melhor.

Obrigado por não me julgar, nem me expor. Aproveito ainda a oportunidade pra lhe pedir perdão, se acaso lhe constrangi de alguma forma, e que isso não irá mais se repetir de forma alguma. Eu só não queria deixar de lhe expor o que sinto, nem perder a oportunidade de lhe dizer que, mesmo sendo tão distante as nossas histórias e realidades, tu faz alguém muito feliz. Obrigado.

Abraços mil.

P.S. Irei cursar Direito (obrigado por formar opiniões, juntamente com o querido professor José Pedro).

Alban Lerrá Moura
Enviado por Alban Lerrá Moura em 27/04/2017
Código do texto: T5982565
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