Dor de estimação

Como falar sem machucar, pra dizer o quanto estou machucada?

Veja, não digo que minha dor é maior que de qualquer pessoa. Mas é minha dor. E a ferida aberta dói quando esbarra em alguma coisa, quando muda a temperatura, quando chove, quando entra bactéria.

Veja, só de vez em quando não dói. Não parece muito tempo doendo? Não te parece muito tempo?

Veja, eu quero curar. Eu quero que forme casca. Quero sentir coceira da cicatrização e não coçar, porque senão começa tudo de novo. Quero uma cicatriz, não uma infecção que me sugue a saúde.

Veja, não é pedir muito né? Quero que a vida siga o fluxo. Quero "entender a marcha e ir tocando em frente". Não quero mais gotas de sangue pelo caminho.

Mas veja o problema, seu ouvidor, ainda não descobri o remédio.

Sozinho não cura.

Não conheço nenhum médico especialista.

E todos os curativos já usei.

Minha última atadura é escrever. E com os nós dos dedos sangrando deixo aqui esse relato dessa ferida doída que a gente tem de estimação. Que não desapega. Que em qualquer nuance de mudança já dói pra te lembrar que o mundo é "um frio e quebrado aleluia".