"As Hilárias Vinganças do Zé do Barraco"--Série Contos Curtos.

Zé morava com a mulher e os dois filhos pequenos em Torres, uma praia de natureza exuberante e que combinava serra e mar.Durante os invernos pescava com o Vêsgo, marinheiro se amigo, no oceano, e durantes os verões montava um barraco na Prainha,á beira mar, vendendo caipirinha, coca cola, cervejas e batatas fritas para os veranistas. Devido ao barraco simples porém limpinho e ,alegre, pintado de vermelho, ganhou o apelido de Zé do Barraco.

Neste inverno Zé adquiriu uma pequena máquina fotográfica para usar como diversão e também ,quiçá, ganhar alguns trocados por fotos dos veranistas no próximo verão que se avizinhava. Enquanto isto, saiu com Vêsgo para pescar e os dois permaneceram no barco por dois dias .Zé trouxe no anzol um Burriquete e ficou muito contente pois dava para alimentar a pequena família por um mês. Mas logo em seguida ,o Vêsgo pescou uma enorme Miraguaia, coisa que o Zé não gostou.Zé se retorceu de inveja do amigo, e resolveu se vingar e atirou, às escondidas ,o enorme peixe de volta ao mar. O Vêsgo, coitado, achou que foi acidente e quase chorou quando Zé ,rapidamente ,armado de sua maquininha lhe tirou uma foto captando a imagem do marinheiro choroso ,surpreso e desconsolado. Estava vingado e, á noite, pendurou no seu casebre a foto do Vêsgo, curtiu a vingança e deu gargalhadas, iluminando a casa com todos os seus dentes de ouro.

Chegou o verão . Zé pegou as crianças e a mulher e foi para o barraco na praia. Mandou Maria cuidar, brincar e banhar os filhos, mas ela era muito preguiçosa e sentava na cadeirinha de praia bebericando garrafas e mais garrafas de cerveja, sem sequer um olhar para os pequenos. E Zé novamente resolveu se vingar, desta vez da Maria e mostrou uma moça bonita que vinha todos os dias à praia com seu filho e o cuidava e mergulhava nas ondas com ele e jogava frescobol e o beijava ,e sorria,e depois ,às onze horas ,comprava uma caipirinha e coca com batatinhas .Maria ficou brava , enciumada com a admiração do Zé pela moça bonita e, quando dormitava na cadeirinha, com a fisionomia crispada de raiva e álcool, o Zé lhe tirou uma foto. Maria saiu horrorosa .E Zé pendurou a foto no barraco, e sorriu com os dentes de ouro e sentiu o gosto da vingança e o saboreou..

No outro dia às onze horas quando a moça bonita chegou no barraco, Zé lhe ofereceu uma caipirinha no abacaxi. Uma deliciosa caipirinha com vodka! E durante todo o mês de Janeiro ela tomou a bebida na gostosa fruta, mas ,apesar dos sorrisos derretidos do Zé, não lhe deu atenção.

Zé ficou brabo, ressentido, se sentiu rejeitado e, enraivecido, resolveu se vingar da moça bonita. Um dia antes dela ir embora, o Zé comprou na vendinha do Firmino uma cachaça braba, feia mesmo, de Terra da Areia e serviu para a veranista que a tomou inteirinha não notando a mudança.

Zé ,então, muniu se da maquininha, antevendo a vingança, e a fotografou quando caiu na praia, quando trocou as pernas na estradinha ,quando deixou no chão a cadeirinha e o guarda sol e quando, finalmente, emborcou na areia. Zé, novamente, se sentiu vingado e, deliciado, pendurou a foto no barraco .

Os fregueses começaram a perguntar quem era a moça que aparecia nas fotos . Zé respondeu e mentiu, e curtiu mais uma vingança:

-Uma namorada do verão que eu não quis e voltou para a cidade grande.

-Mas como? Tu não quiseste esta moça bonita feio como és, pescador?, retorquiam os fregueses espantados.

-Pois é, mas a moça bonita mesmo assim quis eu ,pruquê os home lá da cidade gandi , num tem ouro!

E Zé gargalhava, exibindo seus dentões com as enormes obturações de ouro.

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 18/10/2014
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