O casal de estrelas

Andarilho

Segue o andarilho em sua longa jornada a lugar algum.

A lua banha os seus passos de luz prateada enquanto as estrelas iluminam o caminho a ser trilhado.

Ao longe ele escuta o leve piar dos pássaros noturnos e o ronronar das feras em busca de suas presas.

A distancia que falta pouco importa, ele não tem pressa de chegar, o que importa é deixar o passado para trás e seguir em frente.

Na estrada pouca importa a distância, o caminho não diferencia ricos de pobres nem mesmo os pecadores dos santos, o que importa é simplesmente o que você da importância e as outras coisas são esquecidas.

Suas pernas começam a doer e ele decidi parar, senta se a beira de uma lagoa preenchida pela luz da lua, consome os poucos suprimentos que lhe restam e aconchegasse no tronco de uma árvore.

Finalmente ele cede ao cansaço e entrega se a um sono vazio e sem sonhos.

No meio da noite ele é despertado por um clarão de luz que ilumina toda a clareira onde ele descansava e uma linda mulher aparece diante dos seus olhos.

Linda talvez não seja o adjetivo adequado, seus olhos eram duas pérolas prateadas, seus cabelos eram negros como uma noite sem luar e seu perfume espalhava se suavemente por todo o lado.

Seria redundante dizer que ele se apaixonou quase instantaneamente mas em um segundo olhar percebeu que ela chorava.

- Por que choras criatura tão linda que povoa os meus sonhos?

Ela se virou e ao visualizar os olhos marejados seu coração gritou para consola la.

- Eu choro porque finalmente consegui te encontrar e choro também porque logo terei que partir, eu sou a estrela que te guia, venho acompanhando a sua jornada desde de seu primeiro passo e o guiarei até o seu ultimo se assim desejar, mas tenho certeza que logo esquecerás de mim e continuarei só.

- Como ousa dizer tal blasfêmia? Seguirei a sua luz até o fim dos meus dias e quando forças não restarem em meu corpo continuarei seguindo.

Neste momento um sorriso apareceu nos olhos da pequena, iluminando o coração do andarilho os dois se abraçaram e seus lábios encostaram-se levemente, porém pouco a pouco a jovem mulher foi desaparecendo restando apenas um feixe de luz que iluminava a clareira.

O andarilho se prostrou de joelhos e disse:

- Aqui faço um juramento, aos olhos dos homens e a julgamento dos deuses, seguirei sua luz, ó bela estrela e assim o farei até o fim dos meus dias.

Dos dias que se seguiram pouco se pode falar com propriedade das viagens do andarilho, conheceu todas as terras que o homem havia descoberto e algumas outras, viu seres inimagináveis, discutiu com filósofos, combateu, caminhou, muitas vezes os dias roubavam lhe as força e ele pensou em desistir, mas todas as noites seguia caminho atrás de sua estrela.

Quando finalmente o tempo lhe alcançou e os anos cobraram o seu preço ele parou, as forças lhe faltavam e o seu cajado parecia pesado, cada respiração era realizada com força incomum e as pernas já não respondiam mais.

oi nesse momento que o céu se iluminou mais uma vez e a jovem mais uma vez desceu para ve lo.

- Eis que meu amado cumpriu com a sua promessa. A moça que uma vez havia demonstrado tristeza agora esbanjava alegria e como ela era linda.

- Minha jovem amada, finalmente me encontrou, mas agora não sou o homem que você um dia conheceu, estou velho e cansado provavelmente não carrega o mesmo amor por mim.

- Não se engane meu amado as aparências pouco importam para o amor, se os anos lhe tiraram o vigor e a saúde eu em nome do amor lhes devolvo. E com um beijo apaixonado as forças voltaram, uma leve luz prateada o encobriu inteiro e tudo o que os anos haviam lhe cobrado o amor devolvia para o andarilho.

- Agora iremos partir para a sua última jornada mas dessa vez serei eu que irei segui - lo meu andarilho, até o fim dos dias ou até as minhas forças me faltarem.

O andarilho vislumbrou o céu e abriu um leve sorriso.

- Então partiremos.

E os dois seguiram rumo ao céu e até os dias de hoje os apaixonados podem visualizar duas estrelas que caminham no céu, sempre seguindo uma a outra iluminando a noite dos amantes.

Não se esqueça de sonhar...

Marcelo Rebelo