O melhor amigo

Ele era meu melhor amigo e eu o dele. Éramos inseparáveis havia anos, desde quando nos conhecemos na festa de aniversário de 13 anos dele. E de lá para cá passamos por poucas e boas. Lembro das vezes em que o apoiei nas horas mais difíceis, quando ele havia se decepcionado com uma garota, quando se decepcionou com outras e, tecnicamente, a maior parte das coisas ruins de sua vida tinham sido na parte amorosa. Era um garoto de família média, não lhe faltava nada – às vezes um amigo para lhe escutar desabafando, reclamando da escola, do amigo falso, e nesses casos eu estava sempre ali. Afinal, eu era seu melhor amigo.

Lembro de uma vez que um rapaz arranjou briga com ele e eu não vi outra opção a não ser me impor. Estufei o peito e gritei com força, ele olhou nos meus olhos e vacilou, caminhou para trás e nunca mais mexeu com meu amigo. E também houve a vez na qual ele quebrou a perna andando de skate. Lembro-me de sentir a dor em mim e do meu desespero – não sabia como agir! E quando vi o sangue, então, meu Deus; o desespero foi tão grande que corri para a casa dos pais dele pedir socorro! Aquela foi, sem dúvida alguma, uma situação muito difícil.

Mas a maior dificuldade foi quando meu amigo completou 18 anos. Veio o serviço militar e, no ano anterior, nosso país havia declarado guerra à outra nação. E meu amigo foi recrutado para o combate. Ele se dizia orgulhoso para os pais, enchia o peito para falar da honra que era, mas apenas eu sabia que no fundo ele estava desesperado. Fui eu que estive ao lado dele quando ele chorou e declarou em sussurro o medo de morrer. Eu estive ali ao lado dele o tempo todo, até o dia em que ele precisou partir. Foi um abraço apertado, longo, e ele não conteve o choro – tampouco eu. Meu melhor amigo estava partindo para longe. E talvez eu nunca mais o visse.

Durante um ano eu quase não tive notícias dele. Virei o ombro amigo de seus pais, ouvindo seus lamentos e medos. Eu semeava todos... Meu melhor amigo estava lá, bem longe, entre balas cruzadas, tiros de canhões, mortes e desespero. E eu estava ali, sem fazer nada. Eu não podia...

Certo dia estava em casa, deitado em minha cama, quando ouvi o barulho da porta de um carro bater. Desci as escadas para ver o que era. Ouvi os passos se aproximando da entrada e, de certa forma, eram-me parecidos. Os pais de meu amigo estavam juntos, eu sabia; ouvia as vozes deles de longe, mas tinha mais alguém com eles que não fazia barulho algum senão pelos passos. Ouvi o destrancar da porta e a luz do sol entrando no corredor após ela se abrir. E aquela silhueta escura contra o sol não me era estranha – e eu virei a cabeça em dúvida. “Amigão, sou eu!” – aquela voz, ah, aquela voz era dele! Era do meu melhor amigo! Abanei meu rabo com tanta força que batia nas paredes. Pulei em cima de meu melhor amigo e comecei a chorar copiosamente. Ah, meu grande amigo, depois de noites sozinho em seu quarto sentindo o seu cheiro, agora estávamos juntos novamente. Ele estava ali... meu melhor amigo.

Ramon Tellado Neto
Enviado por Ramon Tellado Neto em 24/01/2015
Código do texto: T5112197
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