Nicole

Quando entrei na sala, surpreendi-me ao avistar a sua unigênita parada na escada. Estava completamente distraída e com os braços parcialmente cruzados, apoiando-se apenas em um lado do corpo. Fitava o piso com uma expressão vaga, imperturbável, deslizando o pé, pequenino e descalço, sobre ele. Tão soberba e elevada era a sua pose que se eu não a conhecesse nem soubesse quem era a sua mãe, seguramente a teria confundido com uma princesa ou com a filha de um renomado político.

Aproximei-me aos poucos, em zeloso silêncio, e, sem que ela se desse conta de nada, detive-me ao lado da escada.

- Você só tem dezesseis anos, não deveria fumar - resmunguei, retribuindo-lhe um breve olhar severo.

Ela, num sobressalto, arregalou os olhos e lançou o cigarro no chão.

Eu parecia ter retomado o completo controle da situação quando virei as costas rumo ao quintal e ouvi:

- Velho safado...

- O quê?

- Pensa que não percebo como olha pra mim? Sei que me tenciona.

Senti-me desconcertado com aquela infame acusação e, suponho eu, minhas feições devem ter envermelhecido instantaneamente, permanecendo assim por um momento. Mas depois de recolocado o chapéu sobre a cabeça, esta pareceu esfriar-se novamente e optei pela discrição do silêncio.

- Mamãe está dormindo - cochichou ela, acariciando lascivamente o corrimão. Abaixou-se, tomou outra vez o cigarro e lançou fumaça pela boca - lá em cima.

Tinha um corpo com traços bem delicados e usava uma camisola transparente, de cor clara, com pequenos morangos desenhados nas beiradas.

- Mas ela pode acordar - retruquei, com um tom incerto e que mais pareceu ser uma pergunta do que uma objeção.

- Não, não irá acordar. Nunca acorda.

"Nunca acorda"? O que ela estava querendo dizer com aquilo afinal? Fosse o que fosse, não havia dúvidas: a diabinha estava mesmo me cortejando!

Imediatamente após ultrapassarmos a porta, fechei-a de modo abrupto. O banheiro estava escuro, como uma noite sem lua ou estrelas, e eu, demasiadamente excitado para gastar tempo procurando o interruptor, apressei-me por apegar-me à sua mão, receoso de perdê-la ou de que se distanciasse naquela obscuridade. Assim que identifiquei a sua cintura colei a minha à dela e abracei-a, caminhei adiante até sentir os nossos corpos serem obstruídos por uma das paredes. Beijei-a no pescoço, comprimindo minha carne contra a sua carne e os meus ossos contra os seus ossos.

- Calma, garanhão! - riu ela - Por que tanta pressa?

- Não quero dar tempo para que você se arrependa nem lhe forçar a nada depois de vindo o arrependimento. Se for para se arrepender, que se arrependa depois de consumado.

- Eu não irei me arrepender.

- Jura?

- Juro! - suspirou.

Virou-se e sua boca fogosa procurou a minha, rodeando ligeiramente os meus ombros com os braços. Virei-a novamente, achegando o seu ventre contra a parede e levantando, impaciente, a sua camisola e fazendo cair a sua calcinha. Em instantes eu poderia sentir o meu corpo adentrando o seu, achando passagem, roçando-o. Cinco minutos.

- Eu não deveria ter feito isso - disse-lhe eu. Num tom febril, como se falasse comigo mesmo.

Assim que abotoei as calças e apertei o cinto, sai dali ligeiro, tropeçando em meus próprios pés. Chegando-me à porta de sua casa, senti um medo estranho me invadir: um medo de sair às ruas, de deixar o sol clarear o meu rosto, espantosamente pálido, e revelar a minha inegável assombração. Distraído, pisoteei o jardim antes de cruzar a rua, chegar em casa e enfim trancar-me em meu quarto. Permaneci mudo, petrificado todo aquele resto de dia e na manhã seguinte.

Sim. Eu, um homem maduro, deixara-me seduzir por uma tola adolescente! Uma adolescente não; uma aborrescente. E a tal garotinha mimada iria sempre jogar aquilo na minha cara, como fizera naquele mesmo dia ao dizer, de forma tão atrevida, que percebia a tremente chama a arder em meu olhar... Verdade é que aparentava ser bem maior daquela altura, sobre a escada, com as mãos nos quadris. Prevenção? Nenhuma. Pensei também na possibilidade dela subornar-me, de dar com a língua nos dentes, o que poderia piorar ainda mais as coisas, tornando tudo muito mais constrangedor. Isso era péssimo. Nunca fui um destes homens que sabem lidar com pressão. E se, em lugar de todas estas coisas, ela se apaixonasse perdidamente por mim? Era realmente possível? Louco! Não, não ela; não por mim. Mas e se se apaixonasse? Que futuro poderia lhe garantir? Por certo nenhum. Estaria a brincar com o seu coração, uma brincadeira de muito mau gosto.

Ah, Nicole... Eu não conseguia tirá-la da cabeça! Não conseguia mesmo. Revirava-me na cama, de um lado para o outro, endireitando com insistência o travesseiro. O perfume... Aquele corpo dourado, quente e macio; a cintura fina; os cabelos longos e volumosos; as pernas travessas; os lábios delicados e ardentes, os olhos que o diabo lhe deu... Nossos corpos se encaixaram tão perfeitamente, como o sapatinho no pé da Cinderela. Não poderia ser uma mera casualidade aquilo. De modo algum. Deveria haver uma razão para que nos encaixássemos daquele jeito, centímetro por centímetro. Era um mistério! Requeria um estudo científico!

_