A EMPREGADA NOVA - parte 1

A EMPREGADA NOVA parte 1

Júlio não teve aula naquela segunda por causa do conselho escolar, mas também não foi jogar bola na quadra da escola conforme havia combinado com os colegas de classe, estava meio indisposto, preferiu ficar na cama até mais tarde mexendo no celular, aquele frio matinal covidava a isso.

O rapaz sabia que estava sozinho em casa, a campainha o força a levantar , já imagina que seja a nova empregada, ouvira no dia anterior sua mãe comentar que aguardava a chegada de uma moça vinda do interior para trabalhar na casa, portanto, Júlio, rapazinho de quinze anos, fora atender a porta, naquela indisposição adolescente, com aquele vagaroso andar, uma displiscência em pessoa na direção da porta da sala, àquela altura já tinha a certeza de se tratar de uma mulher, uma voz feminina com sotaque interiorano chamava por sua mãe no portão, ´´é ela``, pensou ele, e como seria uma senhora qualquer, continuou com sua ´´marcha fúnebre``em direção à porta da sala, depois de abrí-la, continuou em direção ao portão, cabisbaixo e com os olhos semicerrados por causa da claridade, chegara e enquanto destrancava o portão, mesmo sem ainda encará-la perguntou:

- Você é a empregada nova?

- sim – respondeu ela com um leve sorriso.

Júlio, pede para a moça entrar, e no momento em que faz isso após abrir o portão, é que ele levanta a cabeça e arregala os olhos, Iria perguntar mais alguma coisa, mas não perguntou, faltou a voz nesse momento, e quando achou que sairia algo - amnésia total - não se lembrara mais o que ia perguntar, suas mãos começaram a suar, suas pernas a tremer, ele esperava uma senhora, dessas, parecidas com as outras empregadas que por lá passaram, parecidas com as empregadas da vizinhança, esperava uma mulher comum, coisa que Letícia, não era.

O rapazinho, como ainda não se restabelecera por completo, somente com um gesto pode indicar a moça que entrasse e também com um balanço de cabeça, respondeu que sua mãe não estava, a moça, obediente ao gesto, seguiu à frente e Júlio, ainda incrédulo, arregalou mais ainda os olhos observando a moça por outro ângulo, pensou rapidamente se ainda não estaria dormindo e aquilo fosse um sonho, mas, não parecia sonho, o sol brilhava forte e queimava sua pele, as pernas ainda tremiam, o suor escorria por sua pele, era muita sensação de realidade para ser só um sonho.

Letícia aparenta ter uns dezesseis anos, o traje parece desproporcional, um vestido sertanejo que mais lembra a trapos lhe cobrem até os joelhos,uma sandália de dedos que de tão surrada não dá pra precisar a cor, meros detalhes, insignificantes e num primeiro momento, imperceptíveis diante dos atributos daquela moça, possuidora de uma beleza rara, de um cabelo negro-reluzente, liso e ao mesmo tempo ondulado escorrendo e lhe enfeitando os ombros, de uma pele macia, morena da cor de canela, uns olhos brilhantes, castanhos da cor de mel, que cintura fina, de violão, um encanto de menina num corpo de mulher.

Agora, Júlio já conseguia esboçar algumas meias palavras, estava se recompondo, sentia o coração mais compassado, mostrou para ela onde seria seu quarto, ajudou-a com a mala e logo em seguida foi à cozinha, abriu a geladeira, encheu o copo d`água e enfiou goela abaixo, num misto de alegria e desespero, nunca havia sentido aquilo antes, nunca tivera sido gentil com uma moça antes, nem mesmo com angêlica, sua colega de sala, a menina mais bonita da escola e que só sentava ao lado dele. Dona Francisca mãe do rapaz, chega vê a moça a abraça e já vai logo falando:

- Minha flor, que bom que você veio, como foi a viagem?

- Um pouco cansativa, muita poeira e o ônibus ainda quebrou no caminho.

- Nooossa, você deve está bem cansada.

Depois de mais uns minutos de conversa, Dona Francisca continua perguntando.

- E Julinho esse meu filho tagarela, te recebeu direitinho?

A moça de imediato não respondeu, deu um breve sorriso, ficou meio pensativa sem saber se havia outro filho ou se o tagarela referido, era aquele rapazinho quase mudo e meio atrapalhado que lhe recebeu, então, na dúvida, Letícia respondeu que sim com um singelo balançar de cabeça.

Os dias se passaram, Júlio estava mudado, em sala, não era mais aquele aluno participativo e perguntador, serelepe e anarquista, pelo contrário,andava completamente aéreo, parecia estar dormindo de olhos abertos, parecia outro, deixou de jogar bola na quadra ao término das aulas como era de costume, deixou de fazer os trabalhos em grupo, não saia e nem convidava ninguém para sua casa, os colegas já cohichavam, suspeitavam que havia alguma coisa no ar.

Júlio não perdia tempo, o que nunca fizera antes, agora desempenhava com extrema habilidade, andava ligeiro, às vezes correndo, aquele garoto rueiro, da noite para o dia, acabara de se transformar no rapaz mais caseiro da cidade.

GILMAR SANTANA

GILMAR SANTANA
Enviado por GILMAR SANTANA em 01/08/2015
Reeditado em 07/08/2015
Código do texto: T5331315
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