O homem que vendia o amor

*Olá, meu nome é Pedro e estou há dez anos sem amar.*

Ouvi palmas de todos os presentes na sala. Era uma sala pequena e com muitas cadeiras. Setenta e seis, contei. Qualquer coisa para me distrair naquela sala seria bem vinda, qualquer coisa que não fosse eu e meu falso moralismo. Fui para dar uma palestra de como era bom e libertador viver sem o amor para um grupo de pessoas que não sabiam sequer o que era isso.

Comecei como qualquer político de esquina começaria. Me levantei e fiquei diante de todos olhando fixamente para um ponto inexistente, fingindo estar envolvido com a multidão. Sorriso largo, aparência deslumbrante e um coração cheio de merda. Isso mesmo, merda. Essas merdas que fedem tanto que conseguimos sentir o cheiro de longe e desviamos o caminho. Tudo o que eles queriam eram uma maneira de deixar de depender de outrem, de se entusiasmar com novos gostos e peles. Isso era certo, daria de bandeja para eles. Rostos cheios de esperança, vontade de mudar, corrompidos por uma ideia tão entristecida . Só mostrei que sou um bom exemplo de homem que conseguiu superar uma mulher que não me merecia.

Meu nome é Pedro e sou um pastor de corações. Virei apenas um homem que precisa acreditar que as coisas tem sua ordem e motivo para acontecer, pois é vontade do destino, o senhor de todos os tempos.

Fingir felicidade é a coisa mais fácil do mundo. Vendo meu fingimento para as pessoas que querem recompor o coração. Mas o preço é caro para quem vende mentira.

Minha vontade todos os dias era mandar aquelas pessoas irem embora para pedir perdão aos seus maridos e esposas, fazerem sexo como selvagens para esquecer que houveram brigas. Aprenderem a parar de choramingar pelos cantos implorando amor a quem não prometeu sequer paixão. Ah, essas pessoas de hoje amam esperando reciprocidade e acham bonito desdenhar o sentimento mais bonito de todos.

Sou um vendedor de almas. Pego todas as pessoas que vem jogar fora o amor, e sem perceberem, elas é que são jogadas no lixo.

Me chamam de Pedro, o pastor de corações, mas pode me chamar de o demônio dos que ainda estão vivos. Um ceifador dos que perdem suas almas na terra, dos que rejeitam um sentimento por, simplesmente, não saber o que fazer com ele.

Luana Costa dos Santos
Enviado por Luana Costa dos Santos em 02/08/2015
Código do texto: T5332360
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