A EMPREGADA NOVA - parte 2

A EMPREGADA NOVA - parte 2

A mãe do rapaz, Dona Francisca, é divorciada, gerente comercial de uma empresa estrangeira, profissional muito competente e requisitadíssima em eventos e representações, sai muito cedo e chega muito tarde, só está em casa nos fins de semana e olhe lá, tem dois filhos, Júlio, que é o mais novo e Matheus, que mora com o pai em outro estado, portanto, o ´´julinho`` é praticamente o dono, quem manda na casa.

Júlio sempre foi bom aluno, é bem verdade, mas também, nunca foi lá de ficar o tempo todo trancafiado em casa estudando, só que de repente, a coisa mudou rumo, o rapaz se transformara em outro, mudara a escrivaninha de lugar, se antes ficava no canto do quarto de frente à parede, agora fica no meio em frente à porta, a que antes vivia fechada ou semicerrada, agora estava sempre aberta, arreganhada, só assim era possível acompanhar ´´o movimento da casa`` em toda sua plenitude e de vez e quando ia lá na cozinha ´´tomar um copo d`água,``o calor naqueles dias frios eram intensos.

A moça meiga, inoscente vinda do interior é trabalhadeira e obediente, procura cumprir a risca às ordens deixadas pela patroa, não tem muito tempo para nem imagina que possui um observador bem ao seu lado, que só lhe diz o essencial com medo de dizer alguma besteira e talvez estragar tudo, ela nem imagina que habita os sonhos reais de um ´´ursinho de pelúcia`` que hibernava e agora se transformou num ´´vulcão`` feroz e ativo.

O olhar por cima do livro não via letras, muito menos palavras,na verdade, o que ele reparava eram curvas, várias delas num só local e que se moviam o tempo inteiro, num balançar, envolvente, encantador, curvas exuberantes que iam e viam levando e trazendo emoções diversas no pobre coração daquele menino recém vindo de um mundo encantado e que agora se encanta no mundo.

A moça de fato deslumbra,se antes, quando chegara trajando trapos não passava despercebida, agora, usando as roupas da cidade é que não passa mesmo, por onde anda deixa a marca de sua presença, roubando todos olhares olhares da rua, do supermercado, da padaria, da farmácia, do posto de gasolina do outro lado da pista, o jogo de futebol de um campo parou, o juíz nem sabia depois de quem seria a bola, não era comum aquela beleza,apesar de que naquelas redondezas havia diversas moçoilas lindas, mas a beleza de Letícia era rara, era de parar o trânsito, era como se ela tivesse todos os atributos que as outras moças tem, só que de uma forma ampliada, é como se no dia em que fora esculpida, o artista estivesse extasiado completamente inspirado.

Outro dia desses, o rapazinho percebera uma movimentação excessiva no telhado do vizinho, procurando entender o que se passava, viu que o Argenor, não saia de cima da casa ´´tentando arrumar a antena de TV,`` coisa que nunca havia acontecido antes com aquela antena digital, mas o que mais intrigou o rapaz, é que o Argenor ao ´´girar a antena, não olhava para cima, nem perguntava pra ninguém se melhorou, ficou o tempo inteiro girando aleatoriamente aquele ferro e olhando para a casa alheia e mais ainda, na direção das curvas da empregada alheia que lavava tranquilamente e desajeitadamente a calçada da garagem, então, o rapaz indaga:

- Tá complicado aí, Argenor?

O vizinho se assusta com a presença do rapaz, segura firme no ferro da antena para não cair e com um sorriso amarelo responde gaguejando:

- Tá, tá,tá sim Julinho

- Você tá precisando de ajuda, aí?

- Não, não precisa, já acabei, agora ficou bom, obrigado – e rapidamente desce do telhado, saltando alguns degraus da escada.