Última ligação

O celular começou a tocar de repente. John abriu os olhos lentamente e olhou para a tela, havia 3 ligações perdidas. Era Sophie. Resolveu atender.

- Alô.

- Preciso falar com você John.

- Tudo bem comigo também Sophie, obrigado por perguntar.

- Idiota, nunca vai crescer?

- Sua ligação foi só pra me xingar? Se for pra isso, até mais.

-NÃO! – gritou - Não desliga, é sério.

- Fala. – Ele estava meio sonolento, levantou do sofá tropeçando – Caralho.

- Grosso – gritou Sophie – pare de me insultar.

- Tropecei, não era com você – exaltou sua voz.

- Você continua grosso como sempre – disse entre soluços.

- Amor, calma – disse baixando o tom de voz – o que está acontecendo? Já fazem 4 meses que não nos vemos, isso está acabando comigo.

- Eu sei, John – aos prantos e soluçando, completou – isso já acabou comigo, com tudo.

- Isso o quê?

- A distância, você sabe.

- Tá, mas acabou com tudo, tudo o quê? – a voz de John começou a tremular.

- Você entendeu isso também.

Um silêncio incômodo tomou conta da ligação. Um minuto depois, Sophie continuou.

- Acabou tudo, John. T-U-D-O.

- Você não sabe o que está dizendo – disse com a voz ainda mais trêmula.

- Sei exatamente o que estou dizendo. Não dá mais.

Novamente, um silêncio se fez presente, ainda por mais tempo. Só se ouvia os soluços de Sophie e a respiração ofegante de John.

- Sophie, não brinca comigo assim, eu te amo, é apenas uma fase ruim que estamos passando – disse John começando a soluçar também.

- Não John, eu não quero mais.

- Por quê? O que eu te fiz?

- Nada... – disse sem terminar, sendo interrompida por John.

- Então, não tem motivos.

- Não terminei, disse nada, não sinto mais nada.

John respirou fundo, ficou em silêncio mais alguns instantes tentando assimilar o que acabara de ouvir. Quando deu por si, ouviu os gritos de Sophie.

- Ainda está aí, John?

- Vai fazer isso por celular mesmo?

- Não há outra maneira, você sabe.

- Não dava pra esperar o dia de voltar pra casa e a gente conversar de verdade?

- Não – respirou fundo e continuou – você sabe como sou.

- Não conseguiria, não é mesmo?

- Não.

- Lembra o que disse uma vez sobre términos por ligação?

- Isso não vem ao caso.

- Você não ia conseguir olhar nos meus olhos e terminar – disse através dos soluços.

- Não é isso – respirou fundo e continuou – apenas não dava pra esperar.

- Tudo bem, não vou insistir, já que quer assim, eu aceito.

- Como eu imaginava.

- Como? – respirou fundo – não entendi.

- Nada, tenho que desligar – não conseguia conter o choro e sua voz ficou baixa.

- Sophie, eu não entendi, o que você imaginava? Que eu fosse ficar aqui insistindo pra não – respirou fundo – não terminar comigo?

- Não é nada, John, preciso desligar.

- Não vou insistir.

- É por isso que não queria ter que conversar te olhando nos olhos.

- Não te entendo.

- Eu sei, sempre foi assim.

- Não precisava desligar? – não contendo o choro, tentou prosseguir – Você... bom... tá, até mais.

Foi a última vez que se falaram. A distância impediu que eles se encontrassem durante um longo período. Sophie havia ido estudar em outra cidade antes de terminarem. John, alguns meses depois, fez o mesmo, mudando-se para outro país. As coisas mudaram muito para ambos. Sophie, apesar de tudo, ainda guardou por um tempo as cartas que havia recebido enquanto namoravam. John, por outro lado, já tinha rasgado tais cartas e jogado no lixo, mas permaneceu discando o número de Sophie sem deixar completar a ligação.

Permaneceram sem manter contato e após um bom tempo acabaram-se as ligações, as mensagens, acabou-se tudo... T-U-D-O, menos o orgulho que carregavam.

Caio Barros
Enviado por Caio Barros em 04/02/2016
Código do texto: T5533827
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