Riscos

Ela estava deitada no chão, o corpo jogado de braços abertos, olhos no teto, contudo, a mente vagueia distante, tentando inutilmente não tornar aquilo tudo mais melodramático que uma novela mexicana. Caramba, ela estava se sentindo mais solitária que um vilão de uma novela qualquer. O som tocava uma melodia triste, mas ela não conseguia decifrar qual era a música. O som vindo do andar de baixo a despertou de seus devaneios sobre um passado não muito distante. (Não vou descrevê-la, pois eu prefiro que você sinta o que ela sentiu e se deixar levar para, assim, imaginar a cena livremente). Tirada de seu transe, ela trocou de posição e colocou o rosto em contato com o chão para absorver a sua frieza. O toque provocou-lhe um choque. Não conseguia parar de pensar nele, por mais que odiasse isso, por mais que relutasse. E esses pensamentos a assombravam insistentemente. Como deixar alguém conhece-la tão profundamente? Como deixar alguém lhe prender assim? Ela que sempre foi livre, espontânea, verdadeiramente. Como deixar alguém sacudi-lhe a vida dessa forma? Senti medo por ela. Nós ficamos frágeis quando nos mostramos abertamente para alguém, a ponto de deixa-lo descobrir nossos segredos. Eu não sei por quantas pessoas, ou se arriscaria minha fragilidade, contudo, ela sabe, o fez e por mais que doa agora, não se arrepende. “Estar vivo requer os seus riscos”. Soava em sua cabeça como um mantra. Fechou os olhos e o imaginou-o perto demais para um último beijo.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 07/02/2016
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