A Terapia

O relógio marca 17:45, Carolina desce as escadas do colégio correndo, com sua mochila pendurada em um único ombro. Precisa urgente bater o ponto e descarregar a bexiga que já está mais que cheia a ponto de sentir dores. A terapia está marcada para as 18:15, é uma sexta feira e Doutora Marina não tolera atrasos. Suada e com sua garrafa de água na mão, ela sai em busca de um táxi, em plena hora do rush a avenida encontra-se travestida de inferno. Carolina estende a mão, porém 2 taxistas a ignoram deixando-a cada vez mais ansiosa e irritada com tamanha dificuldade. Certamente esse era o motivo de estar sentindo coceira intensa na nuca, ocasionada por sua dermatite atópica que a cada nível mínimo de stress resolve dar sinal de vida.

Finalmente um táxi resolve atender seu apelo. Já são 17:55, e restam apenas 20 min para o inicio da consulta. A semana foi tensa e o “papo” com a terapeuta renderia, desde a segunda feira que ela espera externar o seu deslize da semana: Ter traído o Paulinho com o Marcos. Aquele beijo na Praça do Arsenal não era para ter acontecido, pensava ela. Paulinho era um ótimo companheiro há 5 anos...

Por sorte a Conselheiro Aguiar estava livre e o taxista conseguiu chegar a tempo. Carolina tirou uma nota de 10 reais da carteira e pagou a corrida, entrou no prédio onde ficava o consultório e direto foi ao elevador, subiu até o sexto andar e finalmente estava de frente a porta da sala da Doutora Marina, uma rápida espiada no relógio e viu que pontualmente marcava-se 18:15. A porta foi aberta, a Psicóloga impunha um sorriso simpático que contrastava com o rosa de sua camisa de botão, cumprimentaram-se com um abraço e seguiram para salinha do divã. Ali estava o confortável sofá. Carolina deitou-se e uma instantânea sensação de prazer tomou conta de seu corpo cansado. Deitar e relaxar era algo que ela almejava desde as primeiras horas do dia, porém seu clímax é interrompido pela voz da Doutora Marina questionando o que ela gostaria de falar nessa sessão,

Carolina respirou fundo e um misto de constrangimento e ansiedade tomou conta de seus sentidos, mas sabia que era necessário compartilhar aquele “segredo” com alguém que não a julgaria e em um lugar onde seus erros seriam guardados a 7 chaves. E começou a sua confissão: Marina, eu beijei o Marcos! Beijei e gostei! Sei que errei mas não me arrependo pois me senti feliz errando e estou aliviada em falar isso pra alguém...

A sala foi tomada por um rápido silêncio, porém suficiente para ouvir a respiração ofegante de Carolina. Doutora Marina em suas técnicas psicanalíticas e infalíveis questiona: O que você ganhou fazendo isso Carolina?

Enchendo os pulmões com oxigênio confiante e vestida com uma forte armadura medieval, Carolina é firme em sua resposta: Liberdade!

E assim Doutora Marina dá como encerrada a sessão...

Nati Mendonça
Enviado por Nati Mendonça em 02/05/2016
Reeditado em 10/09/2016
Código do texto: T5623436
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