Lá estavam eles! Seguiam o estreito caminho da serra. Era felicidade que não cabia no peito. O noivo guiava sua amada e se dependesse dele, seria assim pelo resto de suas vidas.
Liberdade, até que enfim! Eram jovens desimpedidos e donos de suas vidas. Oh, como estavam felizes! O vestido branco ''embabadado" deslizava pelo lombo do cavalo que marchava ritmadamente sobre as pedras do caminho. O paletó do noivo, antes preto, agora era marrom por conta da poeira. Segurando firme as rédeas, ele guiava o animal, enquanto trocava risadas com a recém esposa. 
Ele amava tanto aquela mulher! Admirava seus olhos azuis como o céu, seus dentes brancos como as nuvens e a pele alva como a geada. Casar-se com Laura era tudo que Joaquim sempre almejou.
 
Já se imaginava daqui a alguns anos, percorrendo aquele caminho, levando o filho para batizar na capela onde se casaram. Era seu sonho, ver Laura e o filhinho galopando naquele mesmo cavalo. Laura também sonhava... O casamento foi só a realização de um, entre seus muitos sonhos.  Com a cabeça nas nuvens, a moça ia soltando cada vez mais as rédeas do seu cavalo, sem perceber, ela estava se deixando levar pela paixão, sua única guia.
Foi num de repente, Laura caiu do cavalo e no susto, agarrou-se aos ombros do marido, levando-o consigo serra abaixo. Rolaram ambos, ele e ela, Joaquim e Laura, o amor e sua amada, abraçados em direção ao fim do precipício.
Enquanto caiam, ouvia-se ecoando "eu te amo" sussurrados, aflitos e desesperados.
Não era pra ter acabado assim! Eles tiveram tão pouco tempo, mas o pouco tempo que tiveram, nem a morte poderia lhes tirar!

Autora: Marina Leite

Baseado no poema: A Serra do Rola Moça, de Mário de Andrade.

 
Letras da Canastra
Enviado por Letras da Canastra em 23/05/2016
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