Aqueles Olhos Amarelos

Pouquíssimas coisas destacam-se na escuridão total da noite, principalmente quando a luz natural, das estrelas e da lua, e também as luzes artificiais, estão obstruídas por alvenaria trabalhada pelo homem. Para que algo se destaque nessas condições é necessário que o mesmo possua luz própria, como o vaga-lume.

Mas, não estou a falar de animais, não me intento a isso, não, o que me chamou a atenção foram dois globos luminosos de coloração amarelada, que, no breu da noite, estavam diante de mim. Surpreendentemente, não estou a falar, também, de assombrações, como aquelas que se contam em rodas de gente circundando a fogueira, tal qual acontece nas pequenas comunidades que conheci no interior das Minas Gerais.

O que me despertou a atenção era algo natural, criado pelas leis que regem o Universo, e há neles um quê de divino, que me fitavam enquanto me encontrava em meu momento mais íntimo. Minha respiração se fazia brusca, meu coração em disparada; no meu interior me sentia em um estado de alerta, não como se temeroso estivesse, mas como quem se depara com o extasiante momento da glória.

Ainda que eu estivesse em meu momento mais íntimo, não estava só. A minha voz tinha companhia e também a minha ruidosa respiração. Meu coração, tão agitado, batia por dois, e, no entanto, podia se supor que havia quatro. Outros ruídos, estalos e gemidos, mesclavam-se ao som de risadas gostosas e longos suspiros. Os sabores e os odores misturavam-se e os sentidos se faziam todos mais aguçados naquele momento. O mais estimulado era o tato, mas, confesso, que o paladar era o mais prazeroso.

E, em todo esse tempo, eles estavam lá – aquele brilho amarelo – ainda que a escuridão nos cegasse, parecia me procurar por todo o pequeno espaço em que estávamos confinados. Não era uma assombração, ou uma alucinação minha, mas um brilho amarelo que me observava argutamente e, então, eu pude decifrar a mensagem que se dirigia a mim: “te quero”; respondo: “eu também”.

André de Sá

André de Sá
Enviado por André de Sá em 26/05/2016
Reeditado em 29/06/2016
Código do texto: T5647782
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