O rei do sol

Eu quase me esperei, disse o rei do sol. Mas talvez os dias tenham ficados mais alegres, e por isso a minha espera tenha terminado mais fácil do que eu acreditava ser. Atrás de mim tem uma janela que vai de frente pro pacífico, onde eu costumo jogar garrafas com sonhos que em algum dia alguém pode encontrar.

Eu prefiro acreditar que nesse mundo azul ele ainda pense, porque todas as minhas lembranças dele são como um sonho. E agora eu estou dentro da realidade. Em algum momento não haveriam mais os setenta e dois anos e cento e dez dias. Luís XIV se vai, o rei de alguns, não o meu, não o conheço, dentro de mim ele foi um sonho, mas que agora se tornam apenas sonhos. E mesmo com todas as suas carruagens chegando à hora marcada, o que demonstra bem o carácter absolutista e a visão que ele tinha de si mesmo, ele se denominava o estado de todas as coisas. Eu posso dizer que são citadas três amantes minhas no período de sua regência, mas era o meu coração que XIV escondia na palma da mão esquerda.

Talvez ninguém tenha contado para o Rei do Sol sobre o que uma cartomante me disse, uma vez, durante a invasão dos Países Baixos Espanhóis, eu encontrei essa cartomante que me disse que ele era o meu leão. Ela não soube entender, assim como eu nunca entenderia. Eu estendi os pulsos para um lago e me prometi que nunca mais derramaria uma palavra sobre ele. e eu não posso dizer, ele nunca me procurou. Talvez o Rei do Sol seja a sua única e própria estrela, e eu como uma supernova fico aqui, longe até de mim mesmo como um corpo celeste, transformando um vazio em Luís XIV.

Quando estou sozinho no quarto ouço as vozes soviéticas. Eu procuro e entrar por uma porta nos fundos da casa de führen, nomeada como secretário particular. Sagan me faz entender que para tudo tem um fundo musical, e que eu posso me negar as coisas. Sei que romantizo a minha maldade. E sei também que quando as pontas do meus pés tocam a água fria, e eu sinto o peso da pedras nos bolsos, assim como Woolf. Não há mais dias bonitos em Berlim, embora eu tenha nascido em Munique, posso reiterar o quanto é uma cidade odiosa. Eu tenho mais que pena de Eva Braun, eu odeio Eva Braun.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 27/07/2016
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