CONTOS REFLEXIVOS DO ANDARILHO AMOR DO ACASO

Era mês de agosto, caia uma chuva atípica, pois os dias estavam com a umidade do ar muito baixa, e as queimadas devastavam a vegetação, mas aquele dia começou de forma diferente.

O andarilho caminhava lentamente se desviando da chuva como podia, quando resolveu parar próximo a uma panificadora.

O andarilho se aproxima do homem que atende a todos com muita disposição entrega uma moeda e pede um café.

O homem observa aquele ser e se compadece da situação do caminhante, entrega o café e da um pão de queijo, e sorrindo lhe diz o pão de queijo e oferta da casa.

O andarilho sorri agradecido, pois tudo que traz nos bolsos e aquela moeda, e aquele pão de queijo e providencial, pois a fome e algo que não se controla por muito tempo.

A mulher que esta ao lado do homem percebe que o caminhante esta com muita fome e lhe diz.

Toma aqui moço, coma esta rosca fizemos agora a pouco ainda esta quentinha, o sorriso do andarilho e o pagamento pelo alimento recebido, pois a gratidão e maior para quem da do que para quem recebe.

Assim se inicia uma conversa fraterna, não ha interesse de nem uma das partes no fator financeiro, a gratidão esta em ajudar ao próximo, o casal tem almas gêmeas e os dois se fundem em um único ser.

A chuva aumenta e o andarilho não tem outro local próximo para que se abrigue o homem da uma cadeira ao andarilho, e diz.

Agora que se alimentou descanse um pouco, pois da forma como o tempo esta de nada adianta seguir seu caminho, o senhor vai acabar doente e encharcado, quando a chuva se for seguira sua caminhada.

O andarilho senta se na cadeira e a conversa vai acontecendo regida pela freqüência do próprio existir, no dom gratuito da vida.

O clima e agradável, pois todos que ali trabalham o fazem por prazer, a sintonia e uníssona a alegria contagia a todos que por ali se aproximam.

O dono da padaria e sua esposa tratam o andarilho como se o conhecessem de longa data.

O andarilho então diz ao casal.

Vocês formam um belo casal, sinto o amor de vocês se propagando pelo ar que circula pelo ambiente, transpondo a própria matéria.

O casal aparenta ser muito apaixonado, e o homem sente feliz com as palavras do ser que vaga, e sente a necessidade de dividir sua historia com o novo conhecido.

E assim o dono da padaria começa a contar como se deu a descoberta de um amor que só aconteceu por força do próprio destino, que faz com que as coisas se movam buscando sua própria razão no éter do electromagnetismo cósmico.

E assim o homem conta ao andarilho como ele começou sua jornada e os motivos que o fizeram transitar pela vida ate sua chegada àquele local de encontro que o próprio destino preparou, orquestrado pelo grande arquiteto do universo.

Morei no interior ate os meus 17 anos, mas como a cidade era muito pequena e não tinha condições de trabalho tomei a decisão de sair em busca de uma vida melhor, e sai andando pelas estradas.

Vaguei por sete meses, ate que um dia um senhor estava tentando trocar o pneu do seu carro que havia furado, me aproximei e ofereci ajuda, ele aceitou e apos trocar o pneu ele me deu carona ate a cidade.

No caminho fomos conversando e eu lhe contei minha historia, ele achou certa a decisão que eu tomei, e por fim me ofereceu um emprego em uma de suas fazendas.

O trabalho era árduo, mas consegui guardar parte do salário e com isso tirei minha habilitação, e depois disso era eu quem resolvia os problemas da fazenda, eu buscava o sal, o adubo, a ração, e com o passar do tempo eu era seu braço direito.

Ate que um dia ele me chamou para ir dirigir para ele, pois sua visão já não era a mesma, e sua saúde estava muito debilitada.

O tempo foi passando e eu ficava em sua casa a disposição de sua filha, eu a levava nas festas, no salão de beleza, na faculdade, a moça não sabia o que queria começava um curso e logo desistia.

E com isso a vida foi seguindo, e eu cumprindo com os meus deveres, o patrão como estava muito velho não saia mais de casa, e aos poucos seus bens foram ficando nas mãos dos antigos empregados.

O seu quadro cada vez se agravava mais e os custos com sua saúde cada vez maiores, sua filha que nunca passara por dificuldades achava que o dinheiro do pai nunca ia acabar.

O patrão com mal de Alzheimer já não sabia nem o que possuía, e a moça nunca fizera questão de saber, ate que em uma manhã no mês de dezembro meu antigo protetor se desencarnou.

Para ele foi um descanso, pois seu quadro se agravara tanto que ele tinha voltado a ser criança.

Alguns dias apos sua morte o gerente do banco pediu que a agora minha jovem patroa fosse ate La, ela me chamou e eu fui junto.

Ao chegar a agencia o gerente veio conversar com ela, com ar gravoso, e ela sorrindo sem entender o que se passava ouvia a tudo de forma impassível, como se não estivesse acontecendo tudo aquilo.

Quando ao final de uma longa conversa muito confusa para minha patroa o gerente lhe disse.

Minha cara você perdeu tudo, pois os credores de seu pai entraram com o processo de execução, as dividas ultrapassam o valor da herança, a senhora tem 30 dias para deixar sua casa e todos os pertences que nela estão.

A moça parecia não acreditar, saiu desolada do banco e foi ate um advogado amigo do seu falecido pai saber o que poderia ser feito, o antigo amigo lhe recebeu e disse que iria a busca de respostas no judiciário.

Ela retornou para casa, e assim os dias foram se passando, e duas semanas depois o advogado lhe procurou.

Ela cheia de esperanças foi ouvir as novas, o advogado com ar de muita tristeza disse a ela.

Minha cara as noticias não são boas, lhe informo que suas dividas ultrapassam seus bens.

A moça inconformada e parecendo não acreditar no que ouvia, perguntou. Mas como.

O advogado lhe disse.

Durante o tempo que seu pai ficou doente suas dividas foram se acumulando, e seus credores entrando na justiça para ter o que era seu por direito, e como você nunca foi às audiências nem constituiu advogado para defender se, você perdeu todos os prazos processuais. Seus processos foram julgados a revelia.

Mas não se preocupe as dividas só podem ser cobradas ate o valor da herança.

O andarilho só ouve, pois sabe que a justiça não protege aos que dormem, e o mundo não espera que você caía na real para se proteger.

E assim o locutor continua.

Os dias se passaram muito rápido, o prazo foi estendido, pois a casa foi colocada à venda, e ate que o negocio se consumasse ela poderia ficar na casa.

Ate que chegou o momento da partida.

Eu arrumei minhas coisas e coloquei dentro do carro que havia comprado e fui ate ela para me despedir.

Ela em desespero me disse.

Não me deixe, não sei andar sozinha, meu pai sempre me protegeu de tudo não sei nada da vida, durante todo tempo que vivi nunca achei que algo parecido pudesse acontecer.

Olha meu caro andarilho não tinha como não se comover diante daquela situação ate eu comecei a chorar.

Então lhe disse.

Eu vou voltar para casa dos meus pais, pois juntei algum dinheiro e vou dar um tempo e depois vou tentar montar alguma coisa.

Ela me pediu que eu a levasse.

Não tive escolha, pois todos os amigos lhe deram as costas depois que ela ficou pobre.

E em uma manhã escura e chuvosa como esta que vivemos hoje saímos da sua antiga casa e fomos em direção à pequena cidade em que fui criado.

Antes que a noite cobrisse o céu com seu manto escuro cheguei a minha antiga morada, foi um momento de festa e muita alegria, meus pais choraram de emoção, festejamos o resto da noite.

No dia seguinte reuni meus pais e minhas irmãs e lhes contei todo o acontecido, todos se compadeceram da sua historia, e se propuseram a ajuda La.

Ela parecia já pertencer à família, a sintonia era única, o amor se difundia naquela casa humilde e simples, aos poucos fui me ajeitando e começando a mexer com meus negócios por conta própria, pois havia aprendido muito com o pai dela.

Eu saia todas as manhãs e ia à busca do que fazer, e ela ficava em casa ansiosa esperando minha volta, assim os dias foram se passando e aos poucos ela aprendeu fazer todos os deveres de casa, e se revelou uma ótima cozinheira.

E diante daquela situação surgiu um sentimento único de amor e proteção, se eu estava em casa não nos separávamos por nada.

Minha família amava aquela estranha como se fosse seu próprio sangue, eu conseguia sentir tudo que ela sentia mesmo quando estávamos distantes, daquela situação fatídica ressurgiu um amor que parecia adormecido pelo tempo.

Ela já estava em meus sonhos antes de conhece La, eu em minhas viagens multiplanicas ia sempre a sua procura, tenho imagens dela em um passado muito distante.

O andarilho vaga em busca de entendimento, e sente que aquela historia não começou ali na situação descrita, que foi o desenrolar de muitas vidas que colocaram aqueles seres tão próximos.

Pois na vida nada acontece por mero acaso, pois um erro cometido hoje pode significar um acerto em um futuro próximo, pois o universo conspira para o bem e para o coração daqueles que amam.

O pai celestial não desampara seus filhos, ele apenas deixa que as coisas aconteçam para que os ajustes se façam de acordo com a necessidade do crescimento evolutivo do multiverso.

Ondas quânticas ultrapassam todas as barreiras do universo para criar a sintonia perfeita de aproximação dos seres.

Findos os pensamentos reflexivos do andarilho ele se volta para a história, onde o locutor continua.

Com o passar dos dias fui buscando sempre novas formas de trabalhar, mas a cidade em que eu nasci não oferecia nem um tipo de serviço que não fosse braçal e com salário insuficiente.

Ate que um dia me reuni com a família, e disse que ia para uma cidade próxima, pois estavam construindo muitos prédios e condomínios, e que ia tentar fazer algo diferente.

Todos me incentivaram, pois sabiam que eu estaria em casa todos os finais de semana, mas minha amada ficou triste e se afastou.

Apos a conversa se encerrar fui ate ela e disse que se ela quisesse poderia vir comigo para que juntos construíssemos nossa própria vida, ela começou a chorar e se atirou em meus braços.

Foi um momento único em minha vida, pois não esperava que ela quisesse construir um futuro ao meu lado.

No dia seguinte arrumei minhas coisas e parti para a cidade vizinha, aluguei uma casa em um bairro humilde e comprei o material necessário para o nosso novo começo.

Decidimos fazer salgados sucos e café e sair vendendo de obra em obra para os funcionários da construção civil.

As coisas saíram conforme o planejado, o que eu ganhava era o suficiente para nos mantermos e ainda sobrava alguma coisa.

Foram dias difíceis, muita labuta, mas aos poucos consegui acumular o suficiente para montarmos essa panificadora, e como os negócios foram melhorando eu fui trazendo minha família.

E com a ajuda de todos o negocio foi crescendo, minhas irmãs trabalhavam por puro prazer, e alem do que eu vendia na pequena panificadora eu fui fazendo entregas para meus clientes.

O andarilho se regozija com a história, e diz ao homem.

Meu caro os mecanismos de correção da vida agem em pontos específicos, às vezes o que achamos que e sofrimento são os bálsamos do próprio criador para que possamos redirecionar nossa rota existencial.

Não nos e permitido voltar a trás e fazer um novo começo, mas temos o direito divino de construirmos um novo fim, nossa razão só caminha ate onde nosso conhecimento possa compreender.

Os erros da carne podem ser reparados pelo espírito, pois a vida não tem atalho, o caminho e único, nossas opções e formas de condução da própria vida ditam nosso destino pelas leis do próprio cosmo.

A pessoa que esta infeliz com sua vida e se acomoda acaba por tornar se vitima de si mesmo, pois continuam cometendo os mesmos erros e querendo que sua vida tenha um final diferente.

Os problemas surgem como conseqüência da forma a qual administramos nossa vida, não basta discutir os problemas se faz necessário descobrir suas causas, mesmo que no momento do fato não se entenda o porquê, mas tenha certeza que depois se entendera.

Uma relação só se fortalece quando aceitamos as diferenças e buscamos as causas de resolução, deus não age onde o próprio ser possa agir, só encontramos nos outros o que temos em nos mesmos pela lei da atração cósmica.

O casal fica estático frente ao andarilho tentando entender aquela explicação vinda de um ser que aparentemente não tem nada a oferecer.

E assim o andarilho continua.

São nas adversidades que forjamos nosso caráter, pois somos obrigados a buscar novos caminhos na diversificação dos pensamentos.

A maioria dos seres culpam os outros pelos seus próprios erros sem se lembrar de que somos a semente germinada dos nossos atos.

E o desconhecido que nos motiva a essa busca incessante por informações que nos reconectem ao caminho pré-estabelecido na própria rota da criação, falta de caminhos nos obriga a andar em círculos intermináveis do comodismo existencial e o ser se limita no que tem.

Fico feliz que a vida os colocou juntos nessa jornada, e que vocês plantem suas sementes em solo fértil, e que possam produzir frutos livre das pragas que permeiam este plano.

A jornada de vocês ainda esta em andamento e espero que um dia possamos relembrar este momento gravado na tabua celestial da existência humana.

E assim os seres se despedem aproveitando ao Maximo a experiência de uma vida que se perpetua no multicosmo.

Momento de rara beleza, onde seres se fundem apenas pelo fato de existir, esse e o sentido da vida, o crescimento coletivo de seres diferentes.

E assim o caminhante segue, tem momentos que parece que o tempo para, mas a jornada e continua, e o viver nos impulsiona a caminhar sempre rumo ao desconhecido.

AMÉM.

QUE ESTEJAMOS SEMPRE PRONTOS A APRENDER COM NOSSOS PRÓPRIOS ERROS A FIM DE UMA TRANSIÇÃO COBERTA PELO MANTO DA JUSTIÇA CÓSMICA DO NOSSO CRIADOR.

O livro contos reflexivos do andarilho do pluriverso se encontra pronto, aguardando editora para publicação.

Paulo César de Castro Gomes.

Graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduado em docência universitária superior pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós graduando em Criminologia e Segurança Publica pela Universidade Federal de Goiás. (email. paulo44g@hotmail.com)