Proposta em Vias de Fato 28- A Viagem(continuação)

“ Não era para ter acontecido isso”!, pensou enquanto lavava seu rosto do estrago. A sorte que tinha o arsenal na pequena bolsa “tiracolo” que levou naquela noite. Pó, rimel, baton, blush. Ah! Se não tivesse eles...ficaria visível a prova do crime, manchas pelas bochechas, pescoço. Fez uma maquiagem mal feita, somente para não tornar as coisas piores para ela. Os presentes ao certo notaram os abusos; quando voltou para pegar a bolsa, conversavam entre si, que interromperam os diálogos somente para acompanharem Lídia nos passos até a entrada ao banheiro.

Quando voltou Cortez estava tranqüilo, sentado junto aos amigos que iniciavam a cantiga dos parabéns a ele. Cantaram. Logo que serviram o bolo, Lídia pegou a bolsa indo em direção à saída do restaurante. Sendo interceptada por quem?

____Onde você mora? Dê-me seu telefone.

Não sabe como. Mesmo chamando a si mesma de idiota em pensamento, abriu a bolsa e entregou a ele o cartão onde havia seu telefone. Nada mais. Saiu sem olhar para trás, queria finalizar aquele encontro na elegância dos passos e na impressão de que aquilo tudo que ocorreu não tinha sido significativo.

Tomou ar quando deu partida no carro, foi amaldiçoando-o, tinha destronado sua compostura, sua lisura, seu equilíbrio emocional, segurança interna de estar resolvida não mexer mais com esta história de relacionamento, compromisso, homem chegando, mexendo dentro de si naquilo que tinha de mais sublime, e depois sair sem deixar ao menos rastro.

Chegou em casa não deu ao trabalho nem de trocar a roupa, deitou como estava, era duas horas da madrugada. Não demorou dormir, estava exausta, queria esquecer tudo aquilo.

****** ****** ***** *****

Naquela segunda feira levantou decidida voltar à rotina. Tomou um bom banho, vestiu a roupa de costume, tomou café preto e foi para o trabalho. Para quem fazia algum tempo que não ouvia música, somente nas aulas de dança; naquela manhã ligou cd no carro, ídolo Djavan cantando suas melhores músicas. Relíquia dela.Pegou recordando do dia anterior, não se conteve, riu... muito sozinha, na medida que recordava encontrando graça em tudo aquilo, passou sentir que aquele homem poderia estar falando verdade. Não sabia como...mas sinalizava expressão de sinceridade. Logo voltou atrás. Pensou:”Ah! Pare com isso menina!você já foi vítima disso. Somente a rotina chegar que tudo será revelado; a mesmice da indiferença, após, surge o estado do grude sem cola da relação. E aí a fuga. Não viu Túlio? Mesmo amando-a, saiu. É melhor aquietar-se, o bom senso diz que nesta fumaça há fogo, o da destruição das suas expectativas em ser amada, desejada, digna de viver um relacionamento duradouro e saudável.

Continuou na sala do tribunal da razão pensando:

Esse homem é vivido, pior...de cara entrou sem bater à porta, ainda conhecendo seu corpo e satisfazendo o afeto que há tanto não sentia. Viu? Foi lá dentro e fez festa. O resultado foi sair com o rosto todo borrado e ainda deixado o cartão com ele.

Chegando a empresa, o celular tocou. Olhou o número que indicava na tela, desconhecia de quem era, mesmo assim resolveu atender.

____Alô?

Do outro lado, como companheiro antigo conversando ao telefone, disse:

___Não atende ao telefone? liguei várias vezes, e nada!

Lídia reconheceu a voz:

____Desculpe Cortez, estava com o som ligado no carro. Cheguei agora na empresa. Tudo bem? Dormiu bem? Foi uma linda comemoração de aniversário.

Respondeu:

___Preciso vê-la. Hoje ainda.

Lídia ficou por alguns segundos em silêncio. Mas foi decidida na resposta.

____Não me confunda com aquelas que para agregar valor ao produto que entendem ser, estabelecem caminho mais difícil ao homem para a conquista. Não terá como acontecer isso que você imagina. Não sou a pessoa certa. Beijá-lo foi bom, você tem a vontade bem administrada, atinge os objetivos, gosto deste arquétipo de masculino.

Pensava finalizar o diálogo, disse:

____Encontrará a mulher que idealizou. Não eu. Tenha um ótimo dia.

Cortez imediatamente retaliou:

____Não há pedra que não fure quando do gotejamento contínuo. Não perderei você de vista, aprendi com o tempo que não sou autossuficiente na vontade, dependo dele. Desligou o telefone.

Lídia não alterou com a fala tranqüila dele. Desceu do carro e foi para labuta.

Passaram dias, meses. Terça-feira, saindo do trabalho, esquecida daquele dia e do telefonema, na recepção da empresa, indo pegar as chaves do carro com o recepcionista, no balcão aguardando a entrega, olha para sua direita, Cortez sentado em um dos sofás. Sua expressão não era tranqüila.

Lídia reconheceu-o e foi em sua direção, que levantou e abraçou a moça. Lídia novamente presa à espontaneidade dele. Deixou ser enlaçada pelo abraço. Cortez balbuciou em seus ouvidos:

____Por favor! Dê-me uma chance.

Lídia, inexplicavelmente encheu os olhos d´àgua, sentiu o cansaço, da luta neste mundo hostil que é o dos amantes. Pelo menos para ela, que não tinha acertado nele. Cortez disse:

____Não me diga nada. Sei que está vencida pela razão, que diz para não arriscar mais. Dê-me uma chance. Vamos comer algo? Tem palpite de algum lugar agradável que freqüenta?

Lídia indicou o “Barzinho Zidani”. Saíram.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 23/08/2016
Código do texto: T5737441
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.