Pérola Barroca

Tenho na minha mente uma visão. Essa visão, sou eu na praia. Com cara de criança, caçando pequenas ostras. Uma vez me disseram que todas as ostras tem pérolas dentro, e eu acreditei fielmente até o dia em que tentei abrir a minha primeira casca de ostra e pegar uma pérola para fazer um colar pra minha mãe. Eu era tão inocente...

Em dias posteriores, eu conheci pessoas que andavam ao meu redor, e elas eram, de certa forma, como as ostras... Todas fechadas, seladas, coladas com super bonder... E eu as abria fácil.

Todos vemos ostras até cansar numa praia, mas pouco ligamos, porque, cá entre nós... Olha esse mar! Olha bem pra essas ondas... Sinta a areia passando por entre os dedos com o movimento da correnteza... O que diabos são as ostras? Pra que me importa, uma concha sem pérola dentro, que me atrapalha o caminhar na areia macia...

Pois eis que um dia, eu numa dessas, vi uma coisa, no fundo do mar brilhando forte. Neste momento, a praia pareceu deserta. Apenas o mar, eu e aquele brilho. O mar se acinzentou, o vento cessou, e as ondas se acalmaram.

Fui eu em direção ao fundo daquele mar, onde no meio de todo aquele escuro, aquela luz parecia mais forte e me hipnotizava. Não sabia bem o que era, mas queria ir fundo.

Meus olhos finalmente se adaptam ao forte brilho, e vejo então... Mais uma maldita ostra... Não havia diferença nenhuma entre ela e as outras ostras, exceto o estranho brilho, e a dificuldade de se abrir aquela maldita casca. MALDITA... CASCA!

Aos poucos, com dois canivetes, uma motosserra e meia bomba atômica, eu pude ver um pequeno rachado naquela casca impossível e encrenqueira. Tudo brilhou ainda mais.

Aquele brilho me incentivava a tentar de todas as formas, abrir aquela concha... Ainda não obtive grande resultado, mas posso ver de longe que o que tem lá dentro é tão belo quanto todo aquele cenário de mar, vento, areia, ondas e até mesmo um pôr-do-sol laranja e forte... Nada daquele cenário me atraía mais que o que havia dentro daquela dura casca, que se abria tão pouco a cada esforço máximo.

Você é a ostra que não se abre tão fácil, e eu sou o obcecado por descobrir o que há de tão brilhante dentro daquela casca, que me puxa cada vez mais pra dentro, e me envolve com todo aquele brilho, e me deixa cada dia mais e mais necessitado disso, com todas as imperfeições que você tem, teve e vai ter, você é a pérola barroca mais linda que eu ainda não tive o imenso prazer de ver.

De tudo que eu imagino encontrar quando conseguir finalmente abrir a casca, o que eu mais espero que tenha... Os seus lábios. Mais precisamente, aquele momento entre o primeiro beijo do dia e o fim, quando você sorri. Estou eu, abrindo os olhos, e tudo que vejo é aquele sorriso arreganhado, onde tudo que eu leio nas entrelinhas é a sua felicidade por me ter alí, tanto quanto eu me sinto grato por estar vendo aquele sorriso... Meu Deus... Lindo, lindo, lindo.

Você me tem na palma das suas mãos com o brilho do seu sorriso, que não se compara a todo o azul que o mar onde eu te encontrei pode se esforçar em tentar ter...

Eu sou seu.

Caíque Guedes
Enviado por Caíque Guedes em 29/09/2016
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