O Ciclo Vicioso da Carência

Eu já nem sei quantas vezes eu reclamei disto. Para ser sincero, até eu acho chato ficar repetindo esta reclamação, mas eu não posso fazer nada a respeito. São os meus sentimentos e não adianta lutar muito contra sentimentos. Você pode até controlá-los, entretanto, menos tempo, mais tempo, eles vão se libertar.

Tudo começou quando minha irmã chamou o namorado para casa. Na verdade, talvez tenha sido antes, mas, sem duvida, vê-los atrapalhou minha calma.

Eu estava sentado, tentando assistir minha série de TV favorita, em meu quarto. Ao meu lado direito, jaz nada além de espaço. Do meu ou-tro lado, estão minha irmã e o namorado dela, na mesma cama, trocan-do beijos, carinhos, brincadeiras... Enfim, coisas de casal. Bem descon-fortável, não é? Pois é. Volto a minha atenção para a TV e... Olhe lá, o protagonista pediu a garota em casamento e ela aceitou... Que fofo. Ée-eeerrr não!

Por mais que meu cunhado tenha suas características negativas, ele teve uma sorte que eu ainda não tive. Ele tem alguém... Minha irmã no caso. Uma pessoa que seja capaz de agüentar os atrasos ridículos, as brincadeiras sem limites, o vicio pelo videogame. Assim como a minha irmã o tem. Pois é... E, nisso, um sentimento começa a crescer dentro do meu peito.

Quando eu consigo controlá-lo, é hora de ir para o cursinho, afinal, o meu futuro é importante. Vou de ônibus, já que nem meu pai nem a minha irmã podem me conduzir. Está tudo sob controle, até que chega meu amigo com a namorada... Nada tranquilo, nada favorável. Ora eles se sentam na minha frente, ora do meu lado. Numa aula de matemática , lá estão os dois, abraçados, de mãos dadas, prestando atenção na aula. Lá estou eu, lutando para fazer uma conta difícil, e por puro reflexo, constato que o casal, que fica brincando com a minha má sorte, já ter-minou a conta, séculos atrás. Lá vem meu rival de volta, ri da minha má sorte.

Sinceramente, eu não sei qual é o inimigo... Sei que ele se traveste de inveja, horas finge que é uma paixão arrebatadora. Às vezes, quando tem vontade, transforma-se em esperança e me diz:

- Por que não tenta aquela garota?

Infelizmente, meu inimigo me conhece como ninguém. E, como uma criança ingênua que sou, me visto com esperança, planos e coragem. Para a minha amiga, revelo a tática.

- Bom, ela já gosta de Fulano. – Diz minha amiga, com um certo pesar na voz

Ouviu este som, de algo caindo no chão? Bom, lá se foi minha espe-rança. Volto para casa, também de ônibus, cabisbaixo, ouvindo musicas que me afogam numa tristeza. É, Chris, ninguém disse que ia ser fácil. Ninguém disse que ia ser tão difícil. Então, Projota, você conhece uma outra garota que só quer paz?

Chego, finalmente em casa. Penso: “Bom, pelo menos cicrano não tem uma garota também.” Não demora muito e ele acha uma cicrana. “Porra, não acredito... Mas ele é tão isso... Tão aquilo...” penso, amargurado. “Cara, mas, Beltrano é pior ainda...” E, ele postou uma foto beijando a namorada. “É oficial, desisto!”

Meu inimigo está prestes a dar o golpe de misericórdia. Eu, em outras oportunidades, pedi auxilio aos meus amigos, ou desabafei com eles. Mas, eles não podem fazer muito mais do que:

- Calma, você vai achar alguém.

É tão chato ouvir isso que sei que deve ser, igualmente chato, me ou-vir reclamando a mesma coisa.

E meu inimigo continua lá, olhando para mim, rindo de mim. Eu sempre digo para mim mesmo: “Tem que ter alguma por aí para mim!” Meu inimigo ri e diz:

- Você acha mesmo?

Lá estou eu, duvidando de mim mesmo, mais uma vez. Me resta saber quem seria tão cruel comigo. Encho de coragem e pergunto:

- Destino, é você? – Pergunto, desesperado.

O meu inimigo tira a mascara, solta uma risada e diz:

- Seu inimigo é você mesmo!

Mais uma vez, sou nocauteado, esqueço de tudo e, daqui a um tempo, o ciclo recomeçará.

Givago Thimoti
Enviado por Givago Thimoti em 19/10/2016
Código do texto: T5796979
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.