Eu voltei...

Saí de casa decidida a voltar aos lugares por onde passei minha infância e adolescência... Comecei pela Vila Nivi na Rua Baltazar de Morais passando em frente ao antigo Grupo Escolar onde agora é uma pequena praça... Saudades daquele galpão de madeira, de apenas quatro salas onde aprendi a ler e escrever com a cartilha Caminho Suave... D. Mirna professora do 1°e 2°ano e D. Mitiko 3°e 4°ano.

Passei em frente à casa onde morei na Rua Mata Redonda e não a reconheci mais...Tive tanta vontade de ver aquele pé de abacate nos fundos da casa, onde subi tantas vezes e me escondi nas brincadeiras de criança, mas tudo se acabou... casas grudadas umas nas outras que não deu mais para saber qual foi o espaço da minha... O sobradinho da esquina onde morava a D. Madalena está sujo, triste e acabrunhado, acho que ele sente a minha falta... a nossa falta...

Cheguei ao parque infantil onde eu e meus irmãos passamos momentos incríveis e que agora é um Posto de Saúde fechado por um muro tão alto, onde nunca mais verei aquele gramado verdinho onde escorregávamos sentados em um papelão dando gostosas gargalhadas...

Neste bairro ficaram as saudades da matinê no cine Jade ou no Cine Prata na Av. Júlio Buono, onde os filmes La Violeteira, Ben Hur, Marisol e Joselito, (minha filha caçula se chama Marisol). Ficou a Igreja São Camilo de Lellis na Rua Tanque Velho, ficou a casa velha e abandonada da minha madrinha que morava na Av. Gustavo Adolfo e era lá que às vezes íamos comer macarrão aos domingos e assistir TV. Foram domingos inesquecíveis, eu adorava ir até lá, ficou a Igreja Santa Terezinha na Av. Guapira onde fiz minha primeira comunhão e que ao passar em frente quase não a vi, pois o comércio grudou em suas laterais deixando apenas uma estreita e pequena entrada...

Segui até o Jardim Brasil, onde mudei mais ou menos aos 13 anos e não acreditava à medida que passava pelas ruas tomadas pelo comércio o quanto tudo mudou... Passei em frente à casa que morei e desci pela Av. Roland Garros devagarinho tentando entender o quanto eu andava até chegar ao Ginásio Estadual do Parque Edú Chaves onde estudei...

Nossa! Senti o quanto era longe... Meu carro deslizava por aquela avenida abarrotada de lojas, supermercados, postos, bancos, etc. etc. e sozinha me emocionei ao constatar o quanto eu andava para chegar até escola... Aquele matagal todo, aquelas ruas de brejo e as crateras por onde eu passava, agora eram sobrados, lojas e praças e eu não reconhecia mais nada...

Perguntei sobre a escola em que fiz o curso de admissão e o ginásio para um casal de senhores sentados em frente a um bar e prontamente eles me mostraram é ali! Nós também estudamos lá, seu nome agora é Gabriela Mistral e assim eu cheguei em frente a um lugar que apareceu tantas vezes no meu sonho e que eu frequentei num espaço de tempo, mas que se tatuou dentro de mim. Dei várias voltas em frente ao antigo prédio que mais parecia um galpão, seus portões altos só me deixavam ver o telhado e eu senti os olhos marejados e meu coração apertou demais...me comovi com a cena de apenas voltar aquele lugar que ficou em um passado tão distante, mas que naquele dia reconheci que foi o começo de tudo...

Walquiria
Enviado por Walquiria em 20/10/2016
Reeditado em 25/04/2017
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