Enquanto eu puder dizer a verdade

Verão, o sabor dos segredos santos de perfumes místicos, e eu carrego comigo o cheiro que a sua pele deixou em mim. Desde quando nos conhecemos, no nada, quanto mais você toma, mais eu cedo. E eu não tenho mais medo de te dizer todas essas coisas. Não existe mais um céu solitário. Eu demorei uma primavera para reconhecer tudo isso.

Saio da estação do Méier. Te encontro. Você sorri enquanto vem na minha direção e todo mundo sabe o quanto estamos felizes. Você me beija, conserta meus óculos, pega na minha mão e temos mais um dia de fuga do mundo. Descemos as escadas e vamos até a Praça Agripino Grieco. Nós nos sentamos e nos desligamos de tudo o que não é real. Não lembro muito bem sobre o que conversávamos, mas lembro de você interpretar a velha dos gatos, enquanto ela os alimentava, dos seus olhos, do som que sua risada transmite, e de como você sempre diz que gosta do meu beijo. Você se debruçava sobre mim e me beijava, eu nutria um certo nervosismo e deixava minhas mãos percorrerem as suas costas. O mundo girava estranhamente, e dentro de nós emanavam flores de laranjeiras em tons rosados. Eu acho que ao falar sobre isso em uma conversa, alguém comentou que era uma benção dada por Afrodite, e mais uma vez alguém atribuía um momento real à alguém que não fosse nós mesmos.

Era um inicio de tarde quente, e eu te pedi que não me deixasse beber mais de um copo de suco de maracujá, pois aparentemente isso me deixava um pouco dependente, você riu. Gosto da forma que você diz as coisas que diz e o perigo que elas transmitem. Você paralisa o olhar certificando de que não é uma coisa momentânea, e então eu retribuo. Às vezes eu desvio o olhar e você me puxa para você, envolve os braços em mim e me aperta, enfia o rosto no meu pescoço, diz que não sabe o que isso significa, e eu consigo entender essa bagunça como o motivo de ter consigo ficar e lutar até a morte.

Você deita sobre mim, me olha, sorri, diz meu nome completo, diz que se sente muito feliz. Nos tornamos os melhores amigos, não acha? Somos quase Diana e Cornífero. Você pergunta se quero namorar com você. Escuto seu coração, sinto o cheiro que sai da sua boca, digo sim.

Hoje é domingo, e eu tenho quase vinte e cinco, você é bastante imprevisível com o seu Ukulele na ligação. Eu faço a cara de bobo que até você conseguiria identificar nessa transmissão, quando chega no refrão da música que fez para mim. Vivendo assim fica difícil lembrar como era antes, porque as coisas passadas ficaram lá atrás, com todos os sonhos e pedidos à Deus que arrancasse essa nossa dor, e tudo fica confortável, porque o tempo sempre mata a dor.

Muita coisa ainda é impossível, mas eu vou continuar te prometendo todas essas coisas atualmente difíceis de se cumprir. E mudaremos mesmo sendo os mesmos. Uma hora dessas você vai olhar para trás e rir de como costumava pensar de que a realidade é algo inseguro, e que a seriedade do que você quer estraga tudo. E mesmo depois dos círculos e triângulos o mundo ainda vai manter essa nossa felicidade em nós, Joan. E mesmo que deixe de dizer essas verdades, eu vou estar aqui para você.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 04/12/2016
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