Guardou Para Si

No sótão, onde arrulham as pragas de penas e piolhos, meditava todo dia a série interminável de afazeres do cotidiano.

Sem janelas para enquadrar o sol, pedia aos tijolos manchados de tinta que lhe emparedassem uma lágrima ou um sorriso, vindos das conclusões a que chegava sem esforço.

Era figura solene nas entranhas daquele calabouço.

De quando em quando, a brisa rara pelas frestas, lembrava os perfumes de vinhos que sangrariam dali, por intermédio do trabalho concluído, muitas vezes, às pressas de corredor.

Mas, a musa, longe da torre do calor abafado, conquistava seus momentos de glória e de dor, na mesma saudade que arfava o desejo, quase mostrado nas horas de calma e amor.

Guardou para si o som dos motores ao longe da estrada.

Guardou para si as lembranças passadas nos caminhos do passado.

Guardou para si a fórmula secreta . Daquilo que poesiam na tentativa de conceituar o imponderável. Esse magnífico sentimento... O amor.

Marcos Palma
Enviado por Marcos Palma em 24/02/2017
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