A morte

A humildade não é uma virtude, sempre fui humilde nas minhas suplicas. Nunca pedi nada além do que qualquer um já ousou querer. E mesmo com lagrimas, e uma voz tremula, sentado na beira de minha cama enquanto fixava o chão com o olhar, meus pedidos não foram ouvidos. Sempre me perguntei qual era o preço de um abraço, e hoje sei quanto se paga para não tê-lo, mas ainda não aprendi o quanto se paga para tê-lo.

Talvez isto seja um porre de tão chato, talvez ler isto seja um tédio, talvez julgue apenas efêmero o que se prolonga em demasiado durante meus dias. Mas vendo a chuva de onde vejo, você nunca vai acreditar que existe um sol.

Só hoje, eu já pensei em cem vezes em seu sorriso, e digo, que escrevo do amanhã, onde perduram as incertezas e vivem os sonhos, aquele lugar onde Deus é a esperança, e a incerteza vem a ser o Diabo, eu falo daquilo, de logo ali, do dia seguinte e da noite que não terminou, eu falo daqui, do amanhã.

Você dorme querendo sonhar, e acorda querendo viver, acha que não existe uma ligação entre isso? Que é apenas uma ordem natural que rege as coisas? E ai que você se engana. Eu já deixei de sonha fazem dias, e por isso estou deixando de viver.

Agora falo de ontem, de onde você já esteve e sabe o que aconteceu, do único lugar onde habitam certezas absolutas, onde um presente já foi aberto, visto e vivido, de onde você sonhou e vivei, assim como eu o fiz.

É fácil olhar de onde estou, e me lembrar da primeira vez em que vi aquele sorriso. Eu simplesmente caminhava em meio a multidão, e é claro, segurando meu copo com cerveja, que apreciava com longas goladas, e a sentia consumir meus sentidos, apagando aos poucos, e era exatamente o que queria, me entorpecer até tudo sumir, e parecer que aquele longo vazio, havia sido preenchido. Foram longas goladas, e uma longa noite.

O ambiente era repleto de semelhantes, pessoas que como eu afogavam-se até deixarem de sentir tudo oque queria, era isso medo, tristeza ou o que quer fosse, porem naquela maioria eu sabia que estavam ali para saciar como animais os seus prazeres, aqueles desejos primitivos de posse e sexo, e como queriam, eram tudo o que queriam, isso era a diversão deles.

Mas o foco não era essa excentricidade grotesca que fazia parte de tudo ali, e sim, o que resgatou aquilo que eu afogava, clareou a escuridão em que vivia, amparou meu machucado, e acariciou a minha carência.

Ela sorria como qualquer outra pessoa, mas de longe era falso como os outros, existia algo em seus olhos e em seu sorriso, que eram verdadeiros, não era plena embriaguez, e sim, uma beleza que me era transmitida com certezas, e foi ali, no meio daquele sorriso, que nada mais passou a me entorpecer, aquele sorriso me fazia fugir de qualquer lugar. E era tudo sobre aquele sorriso e como eu o faria sempre existir para mim, assim como esse texto é só sobre ele.

Se torna difícil redigir após, só de pensar naquela beleza, todas as minhas certezas passaram a se afirmar, minhas tristezas são apagadas, minhas lagrimas secam, e meu verdadeiro sorriso logo vem a surgir apenas de olhar para aquele outro. E como isso deve ser fastidioso, saber ela que talvez eu seja o único a ver esse sorriso como ele é, que talvez no mundo, só eu posso vê-lo como vejo, só eu, um problemático e melancólico que nunca sabe o limite de nada. Mas que tem como única certeza de que é aonde existe aquele sorriso, que quer viver.

Agora volto para o tempo das incertezas e dos sonhos, lugar onde habitam os fracos cheios de esperança.

Daqui posso ver com absoluta certeza, a mente transcendendo tudo aquilo que é indubitável, e você nunca sabe o quão real pode ser tudo isso, pois poderia ser sobre você, ou sobre mim, mas é tudo sobre ela.

É tudo sobre como você vive parte da vida escutando uma musica, e ela combina com tudo aquilo que espera para lhe confortar. Você desconhece outras certezas, e outros lugares, mas conhece com prioridade e singularidade o que deseja. E quando a musica toca, você fecha os olhos, e mesmo sem saber qualquer coisa como seriam o corpo dela, você já sabe como ela é.

O problema é que ela saiu da musica, e veio dançar comigo, logo eu que não sei dançar, que sempre tropeço e sou inflexível. E foi por isso, pela minha incapacidade de dançar a musica, que estou aqui no amanhã, sentado na ponta de minha cama, contando quantas vezes vejo aquele sorriso. Aquele sorriso.

As vezes metaforizamos para parecer bonito aquilo que pode ser uma desgraça. Mas me é ilógico como esse sorriso é a melhor coisa em mim, enquanto ainda veio a ser o motivo de minhas lagrimas.

Eu já não temo os homens, ou a morte. Temo viver entre eles, buscando novamente o que sempre busquei antes disso tudo, a tentativa de entorpecer meus sentidos até parecerem que não existem, ao menos por uns poucos minutos. A vida é cheia de chances e possibilidades, e sem nada a esperar, talvez me faça trombar em outro sorriso enquanto a vivo, que perdure sobre todas as memorias e os sentimentos. Mas falo do amanhã, aonde a esperança corrompe e o faz acreditar, e aonde o sonho constrói, mas quando amanhecer, veras o passado, e as certezas arruinando os campos que aqui existem, você estará aonde verdadeiramente estou, aonde deixara de sonhar e depois viver, viva até que o ontem faça com que não consiga construir o amanha, até que ela entre e volte para segurar sua mão e te abraçar. Seu sonhos não serão reais depois disso, e se o sonho é a premissa da vida, você se afastara, e deixara de acreditar que aquele sorriso, que transcende os limites da sua mente volte a ser o que era, que criava a luz e a vida do seu viver.

Suplico humildemente, em qualquer tempo, que a musica volte a tocar, e que eu possa com ela novamente dançar.

Murilo Locatti
Enviado por Murilo Locatti em 29/05/2017
Reeditado em 29/05/2017
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