Ei Ei

Você olha para aquela pintura, uma mulher com a cabeça baixa olhando rosas mortas, e um campo florido que acompanha no cenário, você sabe que aquilo é tristeza em contraste com felicidade, sabe como é tudo aquilo, mas não sente tudo o que deveria, existe muito mais por trás destas imagens.

Noto que apenas venho suprindo aquilo que não pode ser substituído, venho me enganando a tempos sobre o mesmo assunto que deveria já ter esquecido, mas não tem como se despedir da visita que sempre acaba te agradando. Algumas coisas simplesmente não podem morrer, como me lembrar de quando aleatoriamente acabamos nos olhando, era possível ver certa profundidade naquele olhar, e estas coisas simplesmente você não consegue matar. Talvez eu esteja morto, eu poderia te mostrar a dor e faze-la talvez entender, mas de qualquer forma você iria embora, sem querer saber ao menos, o porque eu quis te assustar.

Um rei morreu, e isso ninguém esquece, mas não adianta tentar fugir, é algo que cria uma estatua, que fica ali imóvel e por puro acaso você vai acabar passando por aquele local e olhando, sempre observando novos detalhes, e estas coisas simplesmente não podem morrer, mataria todo o sentido da alegria, mataria todo o sentido daquilo que valeu a pena. Contudo, não acho justo você pagar por algo e ser obrigado a levar outro, você olhar tudo e saber que nunca vai poder esquecer. Ainda me lembro de sua pele clara, e seu olhar profundo, e imagino que talvez quando olhar para aquilo que ficou guardado, não vai ver apenas alguém triste segurando rosas mortas, pelo menos me esforço a acreditar, uma crença que pode ser chamada de fé, pois não existe nada físico que possa provar que coisas assim possam vir a acontecer e talvez algo mudar.

Me esforço para escrever, e tentar cada vez mais demonstrar algo que nem sei se existe dentro de mim, se isso não é apenas como uma daquelas fotos antigas que você acha no armário, acha emocionante no instante em que a vê, mas depois se torna algo rotineiro e comum, tão rotineiro e comum que já não sei mais se ainda existe algo para ser substituído, que já não sei mais o quanto queria te dar um beijo. Desejos que esgotam minhas vontades, e talvez matem aquilo que poderia me fazer diferente e não querer fugir toda vez que alguém me oferece um abraço, para não acabar me assustando demais e nunca mais querer encontrar algo que nunca procurei, mas que por acaso já tive como experiencia, e que por puro acaso vou acabar tropeçando novamente, e quando desequilibrar perceber que já havia tropeçado antes ali, naquele mesmo lugar.

Murilo Locatti
Enviado por Murilo Locatti em 29/05/2017
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