E se não fosse aquele simples café?

Parecia como um daqueles momentos em que você vê em filme, a imagem reduz sua velocidade, cada movimento acaba se tornando um movimento distinto dos demais, representando e criando em mim um vazio imenso, que poderia ser preenchido com novas emoções. Sua carisma acompanhado de um sorriso junto de seu olhar meio de lado, fizeram de um breve e rápido momento uma memória, o vento que se contrapunha a sala fez com que o perfume se mantivesse no ar por algum tempo a mais, eu estava ali, apenas pegando um pouco de café para despertar.

Voltei, até aonde deveria, um corredor não tão comprido, um tanto quanto iluminado, mas não demorou muito para que eu tomasse novamente aquele copo de café e voltasse na expectativa de fazer um acaso novamente acontecer e poder encontra-la.

Então me deparei em um conflito interno, me perguntando até quantas vezes um sorriso simples, e uma passada do acaso me fez perder o ritmo, cortar toda minha rotina e mudar a maneira da qual como eu pensava, criando terceiras intenções, sobrepostas as segundas, algo tão devagar, que vem me tomando, retirando a capacidade de sentir dor, prendendo o choro e fazendo com que em uma noite fria se criasse aquela vontade de sentir aquele indefinido abraço carregado de emoções. Mulheres, criando em mim com coisas simples que poderia encontrar em qualquer lugar, ilusões, histórias e desejos, marcando internamente em com tão pequenos gestos e momentos, fazendo assim então feridas que já poderiam e deveriam ter sido cicatrizadas nesta metáfora simples e clichê.

Mas qual o preço da felicidade? Se não se arriscar por algo tão incerto, se não correr riscos e mais riscos, sofrer e sofrer, se deixar levar, se submeter, se tornar o mais celebre ridículo, assim como aqueles citados por romancistas do século passado, segurar as lagrimas mesmo tendo vontade de chorar, se destruir, acabar com o amor próprio, fazendo seu ego se tornar algo tão imundo e quase inexistente apenas para ver aquele sorriso singelo e sincero, carregado de gratificação vindo da única chance em que teve de amar com sinceridade e demonstrar da mesma forma por uma maneira que até agora não sei dizer. E num piscar de olhos, foge, se recria, se protege, tenta nunca fazer acontecer novamente como antes, não deixar que nada possa te ferir ou te machucar, e ai em um dia qualquer, quando menos espera, quando está ali apenas pensando nas preocupações aleatórias da vida ou como resolver aquele problema do seu emprego, que um sorriso ao acaso cruza seu destino, que um momento em uma dia ou uma noite qualquer destrói tudo o que havia feito, e por mais que tente se segurar, internamente a sinceridade não é a mesma com a qual exibe ao exterior, pois dentro está sendo estúpido afim de conseguir ou poder ser novamente um ridículo, fugindo para antigas cicatrizes com medo de que novas feridas com diferentes meios para cura-las sejam criadas e acabe sofrendo como antes, e acabe em uma madrugada qualquer, sem mais nem menos, clame a alguma divindade que questiona a existência, para que todo seu sofrimento acabe, para que a última lagrima seja derrubada e possa tentar apenas ser um cara qualquer, sem expectativas aleatórias sobre os demais.

E a última coisa que poderia deixar de querer, era aquele sorriso novamente. Mas e se não fosse aquele simples café?

Murilo Locatti
Enviado por Murilo Locatti em 30/05/2017
Reeditado em 30/05/2017
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